quarta-feira, 10 de março de 2010

A NOVA ROUPA NOVA DO IMPERADOR

Sobre o caso de Adriano, o imperador da Gávea, inicio lembrando a todos que “cada ‘nação’ tem o imperador que merece” e parece que a história não cansará de se repetir. Às vezes, é preciso um pouco mais de atenção para perceber que a vida imita a arte, ou seria o contrário?

Lembremos aqui, algumas fábulas que muito bem ilustrariam a situação pela qual passa um dos talentos rubro-negro, no momento. Dentre elas “A roupa nova do imperador” contada por Handersen, em que a vaidade de um soberano não o permitia ver a realidade de seus súditos que muito o amavam, mas não se conformavam com suas atitudes egocêntricas. Foi preciso a inocência e a sinceridade de uma criança para fazê-lo ver o que estava fazendo consigo e com a sua “nação”. Além da postura de imposição soberana e soberba que o coloca num pedestal de onde ninguém ousa dizer-lhe contrariedades, fazendo-os ver até o inexistente, ratificando o adágio de que “o pior cego é aquele que não quer ver”.

São inegáveis as qualidades de Adriano como atleta em ação. Pois ele sabe, como poucos, fazer uso de sua estrutura corpórea sem agredir ou machucar fisicamente nenhum adversário. O problema talvez seja a falta de controle emocional de Vossa Majestade.

Em tão pouco tempo é segunda vez que o imperador se envolve em problemas de ordem emocional. Na primeira ocasião foi sua fuga/retorno ao Brasil, em que procurou o refúgio suburbano na Cidade Maravilhosa – aí tudo bem, é preciso estar muito longe e a um certo tempo para percebermos que o melhor lugar do mundo é o nosso, seja ele onde for; até mesmo na favela ou nos morros, quem dirá que não?

Mas o que aconteceu com toda aquela alegria de quando entenderam (italianos e brasileiros) sua situação e o deixaram ficar por aqui? Será esta a verdadeira roupa do imperador que muitos faziam não ver só para não contrariá-lo e assim irmo-nos enganando até que alguém pisasse na barra de seu manto e todos vissem quem de fato é?

Adriano não é uma má pessoa, como também não o era o imperador da fábula; mas ambos se entregaram a caprichos que lhes levaram a derrocadas; e ambos tiveram uma segunda chance. O imperador da Gávea, porém, não se conteve apenas com a segunda oportunidade, deve pensar que um soberano, ainda que sem trono, deva ter quantas lhe convir. Alguém tem de dizer-lhe que as coisas não são bem assim. Ele não pode configurar no rol dos grandes gênios do futebol que acabaram com suas carreiras em detrimento de caprichos e prazeres, afinal, ele é muito mais que qualquer outro; ele é o imperador.

Vale ressaltar que o imperador da fábula tinha as medidas impróprias para um atleta, tal qual o nosso. Vossa Majestade sempre passava com pompa e postura e todos aplaudiam, mesmo contrariados com as atitudes dele em relação aos súditos. Adriano sempre fez muito pelo time que defende e diz amar, e quando está em cena também é ovacionado e desde que faça gols ninguém repara para suas medidas desproporcionais – para a condição de um atleta. Só gostaria de entender por que o tratamento para Adriano é diferenciado do de Ronaldo, já que parte dos problemas de ambos é a balança. Mas penso que mais uma vez é pelo status Ronaldo é fenômeno e não imperador.

Toda corte fabulosa há realeza, criadagem, anfitriões, cortesãos, sábios conselheiros e um bobo, para animar o ambiente; na realidade nosso imperador perdeu a noção das coisas e deixa a todos com cara de bobos.

Na história real do camisa 10, que um dia já cobriu um certo “galinho de Quintino”, também é possível perceber a fábula do “ O patinho feio” com as mesmas analogias do criador Handersen; o menino pobre que se torna célebre pelos seus feitos: Handersen na literatura e Adriano com a bola nos pés. Mas também pode ser algumas histórias às avessas como “A princesa e o sapo”; ele, o imperador, não recebe o beijo como sapo e vira imperador... Muito pelo contrário, é o, já coroado, imperador quem recebe os beijos, e algo a mais, das “princesas” que dele se aproximam e aí vira sapo, fica feio – principalmente por conta de posturas desconcertantes e escândalos seguidos.

Outra fábula a que se assemelha a história real de Adriano é a do “lobo em pele de cordeiro” esta contada pelo francês La Fontaine; só que confio tanto na simplicidade desse cara que acho que também em sua história há uma “inversão de valores”. Ele está mais para “cordeiro em pele de lobo”, parece-nos que quer ser “bad-boy”, mas isso ficou para o Edmundo, para o Romário e outros que eram maus mesmo. Adriano, apesar de sua forma robusta, tem jeito de ser só coração – mas quem vê cara não vê coração, e o que os olhos não veem o coração não sente... Por isso, nada de meter a mão no fogo; ainda mais quando pequenas faíscas começam a chamuscar.

Em fim, o imperador não sabe ao certo o que vestir: se o manto real que os rubro-negros tanto exaltam e o fazem também com quem o veste – se bem que eu prefiro outro manto que lhe cabe bem, aquele verde e amarelo; ou se os trapos estilhaçados em virtude das atitudes equivocadamente tomadas para provar de que é o soberano e de que tudo pode – sem poder; ou a roupa invisível que é conveniente apenas a quem quer ver, tanto a ele mesmo quanto aos seus súditos; mas uma coisa é certa: ele tem de se despir dessa imagem degradante, decadente e desagradável a qual se submete por não entender, ao certo, o que quer afinal.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br