segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

VIROU TIMBOTEUA

Lembro que das vezes que ouvi tal expressão, a mesma sempre esteve associada à bagunça, desordem e coisas do tipo; e dessa mesma forma a utilizei por algumas diversas vezes. No entanto, conheci, por ocasião do carnaval, a Nova Timboteua – não uma “nova bagunça”, muito pelo contrário...

A considerar que o carnaval é uma festa na qual ordem ou desordem não fazem muita diferença, pois cada um vai e sai como quer ou bem entende, desde que justamente deixe os padrões e convenções de lado. Pois a ordem – de comando, e não de organização – do Rei (Momo) é transgredir – com tranquilidade, respeito, segurança e paz – talvez, até, preceitos bem modernos para um rei tão antigo – a considerarmos, é claro, que nossa época é bem mais insegura, daí a preocupação de sua majestade.

Mas voltando à Timboteua... A cidade e as pessoas são cúmplices de uma hospitalidade, de uma prestatividade, e de um carisma que só quem ainda não conhece a cidade sequer tem noção do que perde. Aliás, é assim com tantos outros lugares no Pará que precisam ser conhecidos.

Com o carnaval conseguiram superar a ordem aplicada à desordem – a boa desordem carnavalesca. Uma festa popular muito bem organizada, da qual os moradores das vilas que se agregam e formam o território municipal, assim como muitos outros de municípios vizinhos – Salinas, Santarém Novo, Peixe Boi, Quatipuru, Bonito – estiveram efetivamente presentes; não apenas para “apreciar”, mas estiveram no meio da folia, na avenida do samba, no auge da alegria; assim como os que de outras regiões, como eu mesmo da capital, deram, por lá, o ar de suas graças, e ajudaram a ratificar Nova Timboteua como uma cidade boa mesmo de fazer festa – isso porque todos já conheciam a Festa do Mingau, para a qual meu convite já está assegurado e minha presença garantida.

Muito legal a forma como a Secretaria de Assistência Social encaminhou o processo do carnaval desde o planejamento à execução dos concursos: Perua do Carnaval, Rainha Gay, Rainha das Rainhas e o belíssimo Desfile Oficial, que contou com quatro boas agremiações que estão de parabéns, com uma pequena restrição: a de que não adianta o poder público investir na qualidade e potencializar o que de melhor tem no lugar para que mantenhamos pensamentos retrógrados e provincianos. Onde por um acaso alguém ouviu falar que uma simples candidata do Rainha das Rainhas do Carnaval, evento dos mais conhecidos do gênero, no Norte do País, será ou deveria ser a eleita ao se deslocar para os interiores do Estado. Isso é pensar pequeno. Querer ludibriar a inteligência das pessoas é demais. O carnaval é belo, dentre outros motivos, justamente, pela inventividade, criatividade e originalidade – ainda que “no mundo nada se crie, tudo se copie”, mas que se use, pelo menos da sutileza – afinal eu assisti ao desfile das Rainhas no Hangar.

Porém, o incidente acima exposto, não tirou nem ofuscou o brilho dos blocos, dos quais, inclusive, o acima mencionado, cuja candidata homenageou Clara Nunes, sagrou-se campeão do carnaval 2010, em Nova Timboteua; e muito justamente avaliado por tudo o que apresentou na avenida. E a lisura dos processos seletivos, fez com que cada uma das agremiações, democraticamente, fosse contemplada com uma das premiações disponíveis: A perua do carnaval 2010 é do Bloco Fura Olho; A rainha gay é do Bloco Vem Que Tem; A rainha do carnaval é do Bloco Me Beija; e o bloco campeão do Timbófolia 2010 é o Bloco da Paz. O corpo de jurados foi o mais idôneo possível, pois nenhum deles, dentre os quais, eu, nunca tínhamos ouvido falar no carnaval daquela cidade – no máximo, a conhecia por ser passagem quando ia a Salinas, visitar meu pai.

Em fim, foi uma festa sem igual, com justiça a todos que trabalham só em prol do bem-estar das pessoas da comunidade. Estão de parabéns os timboteuenses. Para o ano que vem, fiquei sabendo, haverá mais bloco se preparando; assim a disputa vai acirrar de modo a ampliar o empenho de todos, e a concorrência só tende a garantir um acréscimo na qualidade do que se vai oferecer: carnaval com qualidade.

Precisamos disso: divulgar tantos outros carnavais. Torná-los cada vez mais notórios, como hoje já contamos com outras peculiaridades da época, que não apenas os desfiles oficiais de escolas de samba; assim foi e vem sendo com: as vigienses, na Vigia; os pretinhos do mangue, em Curuçá; os mascarados fobós, em Óbidos; a bicharada, de Cametá; e outros mais que existem em cada canto desse país que é o Pará.

Agora sim! Quando alguém disser que, se não houver ordem, a situação pode virar “Timboteua”, eu direi que não tem nada a ver uma coisa com a outra... Não com a Nova Timboteua que conheço.
Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Arte-Educador
professorsantos@bol.com.br

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

PARÁ: AME-O... OU FUJA!


Não pretendo revidar ou ser considerado o defensor das ações governamentais, pois tenho certeza que existem pessoas muito mais gabaritadas para fazer isso, principalmente neste governo, que tem toda uma base intelectual – de artistas a educadores – comprometida, não com promessas eleitoreiras, mas com as reais necessidades sentidas há tantos anos (e ponham tantos nisso).

É deprimente ler ou ouvir desabafos que levam em conta a particularidade de quem se sente agredido ou não-abarcado por ações sociais – e ninguém pode neear que tais ações não existam... Só pensam assim aqueles que gostariam que as ações governamentais estivessem dispostas às suas portas, e somente a elas, de preferência; algo do tipo: “Dane-se o mundo Eu estou bem, é o que importa.” E, acreditem, seríamos bem mais felizes se gente assim como vocês não fossem paraenses ou se não estivessem aqui – pois o que a naturalidade de um indivíduo tem a ver com sua insatisfação política?

É de fato deprimente que alguém julgue toda uma vida, toda uma história, toda uma evolução e criação – e é do espaço físico (Estado do Pará) que estou falando – por ações das quais muitas vezes a ignorância de quem assim se manifesta: “Eu sinto-me envergonhado de ser paraense...” (sem sequer se importar com o uso grotesco da língua pátria e se expõe ao ridículo – pleonasmo agressivo aos olhos e aos ouvidos). Ignorância naquele sentido que o dramaturgo alemão Bertold Brecht, em seu “Analfabeto Político” faz questão de reprimir: “O pior analfabeto / É o analfabeto político, / Ele não ou6e, não fala, / Nem participa dos acontecimentos políticos (...) Não sabe o imbecil que, / da sua ignorância política / Nasce a prostituta, o menor abandonado, / E o pior de todos os bandidos, / Que é o político vigarista, / Pilantra, corrupto e lacaio / Das empresas nacionais e multinacionais”

Parece-me, e espero estar enganado, um tanto oPortunista tal discurso, infundado, mas discurso, sobre a violência no Estado; que é uma realidade, mas não uma particularidade deste Estado. Se assim for, sugiro aos insatisfeitos que esqueçam: as diversas praias paradisíacas disponíveis até aos que nem ligam para suas belezas e deixam os resíduos de suas “farofas”; os diversos igarapés com águas cristalinas que resfriam até a alma dos mais estressados; a refrescante vegetação das poucas áreas verdes, que mesmo poucas em nossa região, é muito diante da devastação em outras regiões; esqueçam da diversidade cultural de cores, sabores, sons e odores em plural e significativa brasilidaDe; esqueçam da gentileza e hospitalidade das pessoas mais simples, porque só elas sabem “fazer o bem sem olhar a quem” – e o pior é que os oportunistas sabem disso – esqueça de tudo isso, caros insatisfeitos, e fujam... Para o Rio quem sabe, onde a violência é tão comum que vira festa como tema no carnaval; ou para o Caribe, onde a natureza cansada de ser explorada e desrespeitada demonstra sua fúria com ações arrasadoras; sei lá, para a Chechênia, quem sabe, já que não se fala mais em guerra por lá... Não vá para o Tibet, pois nem os “zens” conseguiram segurar a onda da “PAZ”... ou então procure Alice, no País das Maravilhas... ou ainda, pergunte ao poeta Manuel Bandeira como... e vá para “Pasárgada”.

Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa apaixonado pelo Pará
Contextualização:
O texto acima foi publicado na seção CARTAS NA MESA no dia 07/09/2008 e foi uma resposta a um texto, ou tentativa de um, com o “devido” respeito, que foi publicado na mesma seção no dia 03/09/2008, sob o título TEMORES DIANTE DA INSEGURANÇA no qual seu autor, ou tentativa de um, com o “devido” respeito, demonstrou-se descontente com o elevadíssimo índice de violência no Estado, o que também me deixa indignado, mas que acabou se enrolando na forma de dizê-lo e acabou declarando sua “vergonha” em ser paraense... segue o texto:
TEMORES DIANTE DA INSEGURANÇA
Senhora governadora, estou decepcionado com a segurança em nossa cidade. É uma vergonha os bandidos deitarem e rolarem como bem entendem, e o Poder Público não tomar nenhuma providência eficaz para, pelo menos, amenizar tanta violência e mortes prematuras por falta de segurança em nossa cidade.Eu sinto-me envergonhado de ser paraense diante de um governo incompetente e ineficaz, com relação à segurança do nosso Estado.
Edson Souza de Lima
Belém

PAGANDO O PATO

Meus alunos confiam tanto em mim, que em questão de minutos, logo após as treze horas do dia 10/01 – último domingo – fiquei sabendo de como havia sido a esperada e odiada (agora mais ainda) prova da 1ª fase da UFPA; situação que se configurou como mais uma novela, aliás, dramalhão bem chulo, no pior estilo “pastelão mexicano”.

Muitos candidatos que buscaram o gabarito da prova de domingo foram surpreendidos com a média de acertos que, em muitos casos, foi inferior ao que haviam conseguido na primeira ocasião. Convenhamos que isso é de preocupar qualquer um, do mais graduado ao aspirante; então por que pensar que os candidatos é que são os únicos responsáveis por seus fracassos quando é mais que evidente que, neste caso, não são.

Trata-se de uma grande verdade que ninguém deveria estar se lamentando sobre o que foi cobrado agora em prova, uma vez que o conteúdo se manteve o mesmo; logo tudo o que foi pedido na etapa de domingo, ou antes mesmo, deveria ter sido estudado, absorvido, aprendido, apreendido, em fim. Um programa único sobre o qual se deveria basear a preparação do candidato e deixá-lo condicionado para o que “der e vier”. Mas assim não o foi porque a irresponsabilidade de “um” dito profissional – que inclusive vem tendo seu nome vinculado a chacotas por conta de outros também ditos “profissionais” da mesma área – que fez os demais “profissionais” se irritar, por ter de trabalhar um pouco mais, e que, ao que tudo indica, resolveram “punir” a todos.

É uma pena que de fato estejam querendo jogar na lama a única base possível de dar jeito em alguma coisa nesse país. Primeiro o ENEM, depois a UFPA, que fez o que fez e ainda nos afronta com publicações estampadas nos jornais, nas quais divulga o prejuízo do processo até aqui e sua não condição de executar as etapas seguintes pela falta de recursos. Quem pagará por isso? Nós de novo, com certeza!

O mínimo da sensatez e do respeito que se deve ter por quem paga (em valores reais e em reais) para provar que sabe o que querem que prove que sabe, não deveria trazer aqui quem quer que seja para defender a universidade e argumentar de que somente os aspirantes a acadêmicos é que são culpados por não entenderem nada – de fato, eles e nós, que os ajudamos, na medida do possível, com base em “seus” programas, ainda não entendemos nada do que aconteceu com esse processo; e, com certeza, ficaríamos mais insatisfeitos, tristes e aborrecidos se entendêssemos. Mas como o escândalo é bem maior do que se pensa e por conveniência o caso foi abafado, quem vai (tentar) explicar?

Mas tudo bem, percebemos que cada vez mais estamos sós; e que, se há alguém ou alguma coisa que podemos fazer para esquecermos tal inconveniência ou despropósito, somos nós mesmos; estudando um pouco mais para compensar o “papelão” pelo qual nos obrigaram a passar – e essa fala final não é de conformismo, pois não tomar atitude é só o que querem os que abusam de nossa boa vontade.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

UMA FORÇA PRA GALERA!


A todos que farão a esperada (e até odiada, neste caso) prova da 1ª fase da Ufpa, no próximo dia 10, gostaria de ajudar ao meu modo dizendo: “Se há algo que não se deve levar para a prova de domingo é desespero.”

É de fundamental importância que haja muita, mas muita, tranquilidade neste dia; ele é único e deve ser o último também, pois ainda que você se submeta a outros processos seletivos, que sejam em “pós-graduações”. O processo será seletivo, mas agora em circunstâncias bem diferentes e você estará mais seguro de si – como deve se sentir também neste momento: autoconfiante.

Sem sobressaltos às vésperas, e excessos só de certezas. Seja honesto com você mesmo e ciente de tudo o que fez para estar bem condicionado para o momento certo; e que poderá ser só seu – ainda que tantos outros também pensem assim e tenham “seus” momentos – porque é assim que é quando acontece de os resultados serem divulgados: o momento mágico e único de cada um que se esmerou para estar ali, insuportavelmente sujo, fedido e embriagado... mas feliz.

As dicas certas para uma prova tranquila são todas aquelas que foram ditas em sala de aula e fora dela, nos momentos de descontração e bate-papo com os professores nos intervalos entre uma aula e outra, pelos canais de comunicação eletrônica e também pelos meios mais rústicos como os “bilhetinhos” que lotaram as lixeiras após cumprirem seus papéis de revelar dúvidas e alcançar esclarecimentos.

Se quiser tranquilidade na realização da prova, por opção própria – ainda que minhas palavras pareçam indutivas – comece a resolvê-la pelo que sabe ou pelo que goste, já que muitas vezes acabam por se complementarem. Daí você terá a sensação que tanto almejou para não temer uma prova dada como “missão impossível”.

Dentre outras tantas certezas que você precisa ter, quero ressaltar as de que você estará mesmo calmo, paciente e que seu corpo e sua mente estarão relaxados, descansados. A ciência de que tanto falo é a de que ficar acordado até bem tarde, no sábado, não o ajudará em nada – absolutamente nada! Isso porque você “encucou” de que determinados conteúdos que foram pouco explorados ou absorvidos durante a preparação serão os tópicos centrais da prova... E, sinceramente, você acha que serão as poucas, mas sagradas, horas do seu descanso que irão resolver esse tipo de problema, fala sério!

Um forte do candidato que se enquadre em tudo o que aqui expus para fazer uma prova sem medo de ser feliz é aceitar que a leitura é o elemento-chave para o entendimento da prova como um todo, e não uma particularidade das disciplinas da Comunicação. Acertar ou errar, nesse contexto, depende bastante do que você entendeu daquilo que te pede cada questão; ou seja, o conhecimento adquirido na preparação só será aplicado depois que souber o que o comando quer que você faça – lembre-se a prova é imperativa e não opcional.

Há quem faça especulações às vésperas, terrorismo psicológico e queira nos derrubar só no “bafo”. Por que qualquer parte da prova haveria de apresentar um grau maior ou menor de dificuldade? Para justificar a falha de quem? A universidade não irá punir você com questões diferentes do que foi feito antes, usará do princípio de que o cobrado está no programa e que nenhum professor, colégio ou cursinho é mediúnico e adivinhou as questões – está lá no programa.

Boa prova e sucesso a todos. Se a nota máxima a uma boa ação é dez, então que o novo ano que se inicia queira dizer alguma coisa de bom a todos os vestibulandos.


Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

MERENDINHA...!


Lembro, e não preciso forçar a memória, pois minha lembrança é de uma época bem recente, de uma brincadeira chamada “merendinha”; e ainda hoje vejo as crianças brincarem. É assim: deve-se pedir “licença” antes de comprar um lanche, para que o colega não peça e ganhe parte da guloseima, ou o que quer que seja, desde que comestível, dizendo, justamente: “merendinha!”

Mas não é sobre esta brincadeira que trata minha balbúrdia (aliás, é coisa muito séria, isso sim!) e sim da atitude, aliás, da falta dela, o que mais pareceu uma “ ‘brincadeira’ de mau gosto” – e que mau gosto – na ocasião em que a equipe de técnicos da Secretaria de Estado de Cultura, foi assaltada em pleno exercício de suas funções.

Explicarei...

Mas antes não posso deixar de expor que o Brasil é mesmo uma piada: nos momentos mais oportunos de mostrar sua eficácia perde a chance por questões simples, para não dizê-las “bestas”.

A segurança, no mínimo, é uma responsabilidade que o Brasil deve assumir com respeito a quem acredita que só ele é capaz de assumir.

Enfim, o Brasil é triste por deixar que suas ações sejam tomadas por fragmentos de interesses extremamente pessoais; pois abre mão de sua importância só porque uma “licença”, autorização ou pedido não foi emitida, enviada, solicitada ou “acordada” entre as partes interessadas... Quantas vias burocráticas são necessárias para que o Brasil permita o mínimo de condições, numa zona em que ele mesmo considera “de risco”, para que as famílias e profissionais possam exercer os princípios mais básicos da cidadania?

... Como me havia comprometido, explico: Bem longe das políticas tradicionais baseadas na centralização e concentração dos recursos e das ações, o Governo Popular (que pode até não estar dando conta de todas as demandas, mas aí é outra questão, de tempo até, por que não?) tem distribuído suas ações em regiões municípios e bairros que nunca estiveram sequer na periferia do campo visual dos gestores – que convenhamos sempre demonstraram claramente que também nunca entenderem suas funções – em se tratando do segmento cultural isso vem acontecendo com o Circuito Cultural Paraense que atendeu no ano passado cinco regiões de integração, nos municípios de Abaetetuba, na região do Baixo Tocantins; Conceição do Araguaia, na região do Araguaia; Bragança, na região do Caeté; Óbidos, na região do Baixo Amazonas, e São Sebastião da Boa Vista, na região do Marajó; e já este ano atendeu Ipixuna do Pará e demais municípios da região do Rio Capim.

O mesmo com o Salão do Livro, ação preparatória para a Feira Pan Amazônica do Livro, que ocorre na capital e que agora se estende a algumas regiões de potencial para a implementação de políticas consolidadas na área do livro e da leitura; já tendo ido para Santarém e Tucuruí, em parceria com uma estatal... Assim como o circuito só acontece em função das parcerias com os municípios, seja com a sociedade civil como o poder público municipal. Enfim, são as parcerias que importam até aqui.

Se assim não fosse, desprezaríamos os parceiros, ao pensarmos em levar para o bairro da Cremação mais uma ação conjunta dos órgãos de cultura do Governo do Estado e outros também da estrutura estadual de interesses afins, e teríamos dispensado qualquer auxílio oferecido ou qualquer mérito que fosse aos “parceiros” – mesmo aos que se confirmaram parceiros nos oferecendo mais problemas que os que tínhamos; aí peço “licença”...

Existem situações em que o Brasil não pode se mostrar assim tão imaturo, em negar o mínimo do conforto e da tranquilidade, mesmo em detrimento dos que, nessas ocasiões, não se divertem, pois estão no exercício de suas funções: servindo e cuidando da satisfação em família.

É por isso que o povo se mostra individualista, descrente, e teme a própria segurança oferecida – opa, polícia e bandido, quem é quem afinal? – pois se o Brasil que é o Brasil age assim...

Retomando...

Não foi pela falta do “apoio degustativo” que houve o que houve; e nem sabemos ao certo o real motivo, mas muito tem a ver com a falta de diálogo aberto e sincero entre as partes, ah... Isso sim é inegável. Ainda mais quando, em reunião de planejamento, os técnicos assaltados expuseram a realidade da Secretaria, o que não lhes permitiu que em momento algum se isentassem da responsabilidade de articular a “merendinha” para os parceiros... Desde que eles também se dispusessem a contribuir; mas se não entenderam a mensagem, como agiriam? Foi justamente o que fizeram: NADA! Sequer saíram do lugar, não se sabe qual, mas não saíram... E mais, foi o Brasil quem fez ponderações que implicariam na programação – ao entendimento de todos: em prol da segurança! Aí nos comprovamos “péssimos” interpretadores de textos.

Um último esclarecimento: Eu jamais falaria mal de meu país; e Brasil é o “nome de guerra” do oficial que em nome da Polícia Militar do Estado do Pará, nos deixou a mercê do que ele sabia que só seria inevitável se estivesse lá... E o que fez? Vocês já sabem...



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa, Arte-Educador e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br
30/06/09 – 10h / 16h27

MEA CULPA, TAMBÉM!


Eu estava “tentando” assistir a um filme [pirata, diga-se de passagem; e é informação importante para este contexto] quando ESTA bendita idéia começou a me importunar a atenção para transformá-la em texto... Este, por sinal!

A idéia dava voltas em meu cérebro, labirinto genioso, como uma suave rajada de vento brando procurando escape. E me fazia pensar ou lembrar dos proprietários das recém fechadas lojas que além de entretenimento também proporcionavam [infeliz emprego do verbo pretérito] uma gama de conhecimentos por meio da informalidade; é de livros e filmes que estou falando. Calma, tudo será esclarecido a seguir.

Soube, através da “boca miúda”, do declínio de uma das mais atuantes e dinâmicas livrarias da cidade: a Jinkings. E o meu lamento se ampliou na lembrança das vezes em que lá estive para desenvolver atividades de incentivo à leitura – percebam bem o meu dito: “atividades de incentivo à leitura”; isso porque existia na concepção do empreendimento [e estou especulando sobre tal concepção, pois não possuo laços afetivos e nem conheço ninguém por lá] um tanto de interesse, não só na formação de novos consumidores de produtos comerciais como de “conteúdos”.

Minha lembrança é de quando lá estive contando histórias, dinamizando a leitura, e potencializando um espaço de ser feliz. E como foi empolgante e enriquecedor para minhas práticas, para meu currículo. Tanto que, com muito orgulho, consta tal informação nesse meu documento de apresentação profissional: “Contei histórias na Livrariazinha da Jinkings”. E falarei só dessa dinâmica da fantasia, pois muitos sabem e outros devem ou deveriam saber [se bem que agora fechada ficará tudo mais difícil] da imensa contribuição histórica, social, cultural e política de seu idealizador e proprietário, o sr. Raimundo Jinkings. E, claro, o empenho de toda a família, a considerar seus valorosos funcionários e fiéis clientes, por que não? Pois a cena por mim presenciada aos sábados pela manhã, me remetia aos finais de semana na casa da vovó, eximia contadora de causos, fábulas, contos e parábolas: eram [maldito pretérito, outra vez] os pais que ainda chegavam e os filhos que se antecipavam em gritos e gestos de felicidade plena – pareciam esperar somente por aquele momento. Seriam as “xerox”, donw load, i-book, parte ou “os” motivos?

Por outro lado, tão obscuro quanto, um amigo fez o convite: “Vamos à BloockBuston, ela vai fechar e estão vendendo os filmes...”, é claro que fui! Mas sob as marteladas da culpa que também chegam a mim. Não entramos em detalhes sobre o motivo da falência, mas li no jornal, daí a importância do estabelecimento, não se tratava [até quando terei que suportar este pretérito?] apenas de mais uma locadora que fecharia suas portas por motivos bem óbvios, coisa que se descobre o motivo em qualquer esquina, a valor irrisório, mas significativo para o caos de locadoras de vídeos; algo promocional em feiras livres que, em lote, se paga R$ 2,00 a unidade e, na camaradagem, até três por R$ 5,00 – entenderam o quanto a culpa me fez parar para materializar esta idéia [catáfora – anunciar para depois esclarecer – no primeiro parágrafo].

Em Icoaraci, onde vivo [e que brevemente me verá falar de si] já havia acontecido muito isso. As locadoras Power Vídeo e LucK Vídeo, que mantinham um acervo especial do circuito Cult, também se viram obrigadas a cerrar suas portas – assim como outras tantas até com anúncios em classificados de venda de acervos, equipamentos e até prédios; ainda mais quando os “camelôs” passaram a vender “piratas por encomenda”. Daí vieram alguns computadores munidos de gravadora de DVD; na seqüência, TODOS os computadores já vêm com essa ferramenta de violação de direitos [opa, desse mal não me culpo; tenho gravadora, mas não sei usá-la]; na rede mundial de computadores, ao livre interesse de quem queira, baixam-se filmes sem que os mesmos sequer sejam mencionados no circuito comercial por aqui [Brasil] – ou ainda com intenção mercadológica denominada marketing, não foi assim com Tropa de Elite: “vazou na net”.

Em fim, lamento pela falência da Ponto & Vírgula, que também proporcionou ações afins às da Jinkings [se a intenção foi disputa de mercado, pouco me importa, as dinâmicas eram mais interessantes, alegres e felizes]. E quanto aos filmes, torço pelo não trágico destino à Fox, que sabiamente parece migrar para outros negócios, é mais loja de conveniências que outra coisa; tal qual a Computer Store, que perdeu os compradores de “programas” também para a pirataria, e hoje oferece restaurante, lanchonete, salas para conferências, shows e outros diversos fins. Ressalto ainda, por conta de minha “infeliz e catastrófica” contribuição, as salas de projeções que se fecharam; afinal, pelo valor de um ingresso dá, quase, para montar um acervo. E não lamento só pelos produtos, ou pelos proprietários, mas, fundamentalmente, sobre as últimas perdas [cinemas], os prédios e suas histórias na formação do cenário da cidade – não me conformo em não mais ver os letreiros a anunciarem o que está em cartaz no Nazaré, no Olímpia, no Palácio, no Cinema I, III e III...

Sei que algumas “novas idéias”, diga-me o espevitado Luiz Alho, tendem até a minimizar esses pesares, ainda assim, não poderia deixar de me manifestar na forma que aqui está – espero que minha mente esteja satisfeita, com o texto, é claro! – pois o incomodo, agora, dá vez à dúvida: volto a assistir ao filme ou não?



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

INDIGNAS CONSIDERAÇÕES

No ano passado, mais precisamente no mês de outubro, presenciei (a falta de) ações que jamais imaginei rever coisa similar, principalmente em termos de “descaso” com a importância alheia – importância que engrandece, inclusive, o Estado e pessoas, em particular, e que não passam, de fato, de “mero interesse circunstancial”; como tive de ver novamente em 2009.

Explico.

1ª parte:
Em 10 de outubro de 1908, nasceu em Icoaraci, na época, Vila Pinheiro, o hoje considerado “príncipe dos poetas”, Antônio de Nazareth Frazão Tavernard – ou somente, mas não menos criativo ou importante, Antônio Tavernard – o “Toni” da intimidade na família Tavernard.

Para 2008, eu que sou pouco conhecedor da obra, e suficientemente apaixonado por este pouco, esperei uma maior consideração dos órgãos competentes (públicos ou civis) para demonstrar o mínimo da consideração para com quem, já em sua época, colocava as particularidades e peculiaridades do Pará em evidência para todo o país – não somente como o coitado poeta do “rancho fundo”, mas para a considerável relevância de suas obras, nas diversas modalidades da arte da palavra escrita – já que Tavernard foi também contista, teatrólogo, crítico literário e ensaísta. Afinal, era o ano do Centenário.

O descaso começa pela administração do, hoje, distrito de Icoaraci, que sequer pensa em mover ações que visem à revitalização da histórica casa em que morou o referido poeta – situada à Rua Siqueira Mendes (1ª rua à beira-mar). O que há de consideração pública para com o escritor é: um trapiche na Ilha de Cotijuba [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma viela sob o prédio em que está o CENTUR [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] e as ruínas do que um dia foi a “casa do poeta” [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] – de uma coisa as pessoas têm certeza: foi alguém que teve alguma importância, pois só assim se vira nome de rua, prédio ou qualquer outro logradouro público.

2ª parte:
Em 10 de janeiro de 1909, nasceu em Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, na época, Vila de Ponta de Pedras, o hoje considerado “romancista da Amazônia”, Dalcídio Jurandir Ramos Pereira – ou somente, mas não menos criativo ou importante, Dalcídio Jurandir – Dal, na intimidade de sua família – que cresceu em Cachoeira do Arari, também no Marajó. E que depois, por conta da imensa vontade de estudar, galgou rumo à história de sucesso – Belém / Rio de Janeiro – onde faleceu em 1979.

Para 2009, eu que sou “menos” conhecedor “ainda” da obra, mas suficientemente apaixonado pelo mínimo que sei sobre O QUE VIVE, SENTE E SONHA O HOMEM MARAJOARA (nas palavras do próprio Dalcídio), esperei uma maior consideração dos órgãos competentes (públicos ou civis) para demonstrar o mínimo da consideração para com quem, já em sua época, colocava as particularidades e peculiaridades do Pará em evidência para todo país – não somente como o simples escritor dos “campos do Marajó”, mas para a considerável relevância de suas obras, nas diversas modalidades da arte da palavra escrita – já que Dalcídio foi também poeta, jornalista, crítico, ensaísta. Afinal, é o ano do Centenário.

O descaso começa pelas administrações dos referidos municípios, que pouco – quase nada – fizeram para que marcos físicos nas cidades possam se manter como referências da história de tão ilustre filho – potencializando a idéia do “turismo literário” – afinal, quem não gostaria de conhecer todos os rios e comunidades que Dalcídio descreve em seus romances. O que há de consideração pública para com o escritor é: uma rua em Cachoeira [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma praça municipal em Belém sem dinâmica alguma [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma escola que, contra a vontade das autoridades locais, em Ponta de Pedras se chama Dalcídio Jurandir [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], e agora, por conta de uma programação compensatória por parte de um grupo de estudiosos [acadêmicos em menor escala, segundo a proposta de popularizar as obras de Dalcídio, no sentido de torná-lo mais acessível aos níveis do ensino médio e fundamental, por que não?] uma placa foi instalada como indicação de uma obra que ainda se concluirá num espaço cultural que sediará o campus da UEPA em Ponta de Pedras [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] – de uma coisa as pessoas têm certeza: foi alguém que teve alguma importância, pois só assim se vira nome de rua, prédio ou qualquer outro logradouro público.

Perceberam como nomes [aliás, não apenas nomes, mas homens] ilustres têm até mesmo a história do “descaso” moderno em comum.

Estão de parabéns os cidadãos simples, desvinculados de interesses administrativos ou de gestão pública [ainda que apoiados por estes] que reconhecem que em seu tempo atual, mesmo em condições desfavoráveis, podem se remeter à relevância de todos aqueles que ajudaram na construção da história do Pará – cada qual ao seu modo, ao seu estilo.

Sei que é um pouco tarde, mas nunca demais, a considerar seu centenário de nascimento em 2008: VIVA ANTÔNIO TAVERNARD!

E por me instigar a tirar da gaveta meus escritos que denunciam o descaso com a boa escrita, nada provinciana, por sinal, de nossos maiores pensadores e “operários da palavra” – segundo Carlos Correia Santos: VIVA DALCÍDIO JURANDIR.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

FELIZ ANO NOVO, DE NOVO!

Eu bem que poderia aproveitar a oportunidade, aliás, mais uma oportunidade neste espaço e desejar a todos os leitores e editores o Feliz Natal que não pude enviar antes, ou ainda, os votos sinceros de um Ano Novo cheio de realizações e prosperidades, mas...

Deixem meu pessimismo de lado e considerem o óbvio: aquilo que os olhos veem e o coração sente da pior forma possível. Já escrevi para esta seção por ocasião da violência, mas para o descaso não há jeito.

Por que as autoridades (dá até vergonha dizer isso: “autoridade”, mas fazer o quê, se os tais gostam de assim se intitular – porque não somos nós que os escolhemos, se bem que os que escolhemos também não se diferem muito... em nada!) fazem vista grossa ao que está, literalmente, debaixo de seus narizes? Será que é porque as vítimas, na maioria, são pessoas comuns? E ainda aparecerá alguém querendo “direito de resposta” para dizer que policiais também são gente comum... Além do que muitos, como eu mesmo, temeriam em usar do espaço público para dizer o que disse... E dizer o que eu digo é, comprovadamente, por questões muito (mas muito) pessoais, “chover no molhado”.

Se é inevitável, ao ligarmos a TV ou lermos o jornal, nos depararmos com manchetes trágicas, já que a tragédia é a bola da vez; queria muito entender o que está acontecendo que nem o anunciado se pode evitar? Lembro que ouvi certa vez, na faculdade, que para muitas doenças as curas já existem; mas o que aconteceria, se fossem reveladas, com a indústria de remédios? Penso que é o que está acontecendo com a violência, mais especificamente com o crime, daí me vem à memória o deputado/apresentador que forjava os crimes para exibir em seu programa as “cenas bárbaras” – como ele mesmo as apresentava.

A coisa está banalizada mesmo: um policial, não direi inocente, mas que na ocasião realizava seu trabalho, dignamente, foi morto; por conta disso, e “só por conta disso” – vários casos foram, são e serão assim – vários bandidos foram mortos até chegar nos comparsas do infeliz algoz de mais um pai de família (é assim que prefiro lembrá-lo); este que, coincidentemente, era um policial, porque os que não têm essa (falsa) sorte, morrem simplesmente; e com a mesma simplicidade que morrem, são esquecidos principalmente por quem pensávamos ser só cega, mas que também dá vez a surdez.

A violência anunciada e a morte premeditada estão aí nas ruas, estampadas em faixas que divulgam o enredo da tragédia, com tudo muito bem definido: personagens, local, dia e hora – pois não faz uma semana sequer que uma jovem de dezesseis anos foi morta numa “casa de shows” (cuja vida é coadjuvante e que já está com a programação de fim ano garantida) na Avenida Augusto Montenegro. A vida é desvalorizada e ceifada em promoções (que vão do preço das cervejas em balde ao horário de entrada gratuita para mulheres e “universitários”) que desconfio ser a própria Morte a promoter. Tudo perfeito para que no dia seguinte, como em frases estampadas em papelões nos estádios de futebol, após uma partida de final de campeonato, alguém exclame: “Eu sabia!”

Lembrei-me do personagem “seca pimenteira” do Zorra Total, pois é final de ano, todo mundo aguardando palavras de conforto e prosperidade e eu aqui expondo a tragédia da “vida como ela é”; mas não é agouro de minha parte, é só a minha “retro 2009” a mais recente; a da vida real.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

CARIMBÓ EM TODO CANTO

Aos quatro cantos do mundo venho dar ciência do quanto importante é o Carimbó para o povo marapaniense – e como eles mesmos dizem: a todos que adotaram Marapanim e o carimbó como ritmo de vida.

Nos dias 4, 5 e 6 nossa querida “Mapara” – para os íntimos – realizou mais uma edição do Zimbarimbó (Zimba é festa, no melhor estilo linguístico daquele lugar; e o sufixo é o óbvio demais, certo?). Fabuloso encontro de um único ritmo: o Carimbó – de Mestre Lucindo, Pedro Roberto e Bento, o homenageado nesta segunda edição; assim como foi o ritmo que cadenciou e ainda faz balançar a vida de vários mestres que ao longo de outros tantos “zimbas” nunca deixarão de ser lembrados – sem que para isso precisem morrer: “Deus nos livre!”

Quanto ao encontro de um único ritmo, trata da integração de tocadores de carimbó, na ocasião de festejos, como o “Zimba”, em que os de casa recebem outros carimbozeiros de municípios vizinhos, no caso, com maior frequência, os vindos de Curuçá.

O Zimbarimbó está, mesmo como caçula que é, vale ressaltar que já mencionei ser a segunda edição apenas, se consolidando como um dos eventos de maior relevância na forma de ordem da sociedade civil organizada; pois vem sendo fruto de uma série de conversas, articulações, parcerias, entraves, acertos, confusões, retaliações, adequações, rachas e readequações. É isso mesmo. Não dá pra acreditar que um evento com sua magnitude e esplendor, seja ele qual for, seja só flores. Até porque são algumas dessas divergências naturais, digo, culturais, as motivadoras das ações; principalmente aquelas que são respostas a quem duvida de nosso potencial – o que passa bem longe do que acredito ser o ideal: não precisamos provar nada a ninguém para nos sentirmos bem.

Foram três dias de muita festa ao povo de lá e aos que por lá passavam, que acabaram ficando. Marudá? Crispim? Que nada! Naquela ocasião perderam a prioridade para o ritmo que o mundo conhece e que é a cara do Pará.

Mas de que vale o orgulho do Estado e das demais esferas administrativas do poder público quando in loco pouco ou nada se faz para garantir a manutenção daquele ritmo cadenciado que demonstra de forma tão pulsante a mistura das raças – corpo curvado, pés descalços e instrumentos rústicos feitos de insumos naturais, da herança indígena; o gingado e requebrado dos corpos a se insinuarem, e a cadência rítmica dos curimbós a lembrar os atabaques africanos; e as posturas nos giros com braços ao alto, resquício da colonização europeia na formação cultural do Brasil. Se bem que na “hora do bem bom” lá no Bom Intento ninguém sequer ligou ou liga pra isso. Bom mesmo é ver a contradição entre a poeira que sobe e o suor que desce.

Carimbó em todo canto. Foi assim que viveu a “Borboletinha do Mar”. Que maravilha foi chegar àquela cidade e ser recepcionado por grupos que tocavam, cantavam e encantavam, desde a guarita (pórtico de entrada da cidade) até as esquinas, barracões, quintais; e, para não perder o costume, logo após o almoço, embalar-se na rede armada na varanda ao som de adivinhem o quê? Vi muito isso por lá – e é sempre, mas pouco visível.

Lembro-me que numa de minhas idas à “Terra do Carimbó”, na ocasião em que eu e meu camarada Professor Favacho (o Ivanilson, pois Favacho em Marapanim é como carimbó, em todo canto tem), juntamente com os grupos e associações que pensaram o Zimbarimbó, propus o projeto “Carimbó em Todo Canto” sob três conotações bem distintas e ricas na plurissignificação. 1ª – Carimbó em todo canto (= esquina) da cidade, numa manifestação de “ensaio aberto” a permitir que as famílias possam ter acesso sempre, não só nas rádios, mas ali bem pertinho, no bairro e ao vivo; 2ª – Carimbó em todo canto (= do verbo: cantar) como gênero musical a ser aprendido e entoado por todos de modo a garantir a perpetuação do ritmo; e 3ª – Carimbó em todo canto (= qualquer lugar) para quem quiser “conhecer, amar e defender”, de modo a consolidar um “selo” que leve (no bom sentido, na lembrança) não só a cultura marapaniense, mas a essência do povo gentil, alegre e hospitaleiro que se esbalda nas letras simples do muito que as canções contam.

Daí, minha felicidade não mais se conteve, pois o mérito do carimbó é tão presente na vida desse povo do Pará que pude saber do: Zimbarimbó (festa de carimbó), Boarimbó (no dia 20/12 na vila de Boa Esperança, em Marapanim), Fest-rimbó (em Santarém Novo, com a Irmandade de São Benedito, nos dias 19 e 20, quem duvida que estarei lá?), o Folclorimbó (realizado no mês passado, em Curuçá), Festival de Carimbó de Marapanim: o canto mágico da Amazônia (nos dias 13, 14 e 15, realizado pela Amatur), Carnarimbó (ao estilo dos que integram os festejos de Momo à cultura local), Carimbolada (hoje, 08/12, no Barracão do Conjunto de Carimbó Flor do Mangue, no qual o anfitrião será o Mestre Branco, a partir das 09h até o sol raiar, realizado por seis grupos que agora integram a Liga Independente de Carimbó de Marapanim, mais um movimento organizado a contribuir com a propagação do ritmo-vida da gente), com as presenças do amigo artesão Caíto e de seu rebento kauê, 2 anos, que é ninguém menos que o pequeno multi-instrumentista e dançarino “príncipe do carimbó”.

É assim mesmo: “é carimbó pra cá / é carimbó pra lá”; e não por isso apenas, aliás, por tudo isso, é que devemos nos fazer ecoar no registro do Carimbó como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Diga sim, eu quero!

Por fim, um de meus lamentos, e sei que os bons filhos de Marapanim irão compreender, se deu pelo fato de ao exaltarmos o carimbó, no que seria o seu “berço” não dá para não lembrar a recente perda do Mestre Verequete, que nada tem a ver com o fato de que outros nomes que não somente o de Lucindo seja lembrado e aclamado como Rei do Carimbó, como também o é o Pinduca. O mérito deve ser reconhecido, pode não ser aceito, o que é do direito de qualquer um que assim pense, mas suas relevâncias centraram-se na capital de modo que daqui escoa toda e qualquer produção para o restante do país e do mundo. E o Mestre Verequete, a efeito de informação, nunca cantou uma música sequer que não fosse de sua autoria; diferente de outros, que, justamente, por conta disso provocaram uma ciumeira besta sobre aquele que na sua simplicidade, tal qual os Mestres: Pedro Roberto, Cantídio, Bento, Lucindo, Nego Uróia (Curuçá), Amuré, Josimar, Manelão (Santarém Novo), Otoniel e Pelé – que aliás lamentei muito não o ver com sua irreverência nos palcos do Zimba, não como ele gostaria, junto ao seu Flor da Cidade.

Em fim, justiça seja feita, uma salva de curimbós ao Mestre Verequete e a todos os mestres carimbozeiros do Pará. E vida longa aos “zimbas”.


Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

A PROVA COMO UM TODO

Não é de minha intenção advogar em nome da universidade pública estadual, mas gostaria de usar deste espaço democrático para expor umas ideias a respeito da prova de Redação nos vestibulares; e o que me motivou a tanto foi o texto da senhora Mônica Simão Coral, publicado nesta mesma seção, no dia 26 de janeiro, sob o título: Redação como avaliação; o qual, inclusive, desde a publicação, venho utilizando em diversas aulas preparatórias para a tal prova de vestibular, dessa vez, para o ingresso à universidade federal, no sentido de esclarecer situações e até, na medida do possível, desmistificar esse mito (o de que é a Redação que de fato elimina) ratificado por esta mãe preocupada, não com o próprio filho, já que o mesmo foi aprovado em dois vestibulares, mas com os colegas de seu prodígio.

Longe de mim, também, utilizar de meus atributos com o domínio sobre alguns dos recursos linguísticos em função de minha condição de professor de língua portuguesa e redação para julgar o que pensa a dona Mônica. Muito pelo contrário. Para início de conversa, gostaria até de parabenizá-la, afinal não são muitos os que, a não ser para fazer acusações diretas aos governos, tem a coragem de fazer uso da palavra escrita para questionar, sugerir, solicitar esclarecimentos, revelar dúvidas ou colaborar para que a vida, em qualquer momento e circunstância, possa ser bem melhor... E no caso, dos processos seletivos, muitos veem, justamente aí, uma fonte possível de garantir o tal bem-estar – muito baseado no “status”.

Esclareça-se aqui que o fato de uma pessoa ter bom desempenho na escrita de textos durante sua preparação para o vestibular ou durante a vida escolar, nos ensinos fundamental e médio, não determinará na hora do “vamos ver” que seu rendimento será igual; pois não é só dos fatores de possuir boas ideias e dominar os recursos linguísticos que depende o êxito do candidato, mas de uma objetiva “noção do todo”. Ou seja, a prova é realizada em partes e etapas: as partes correspondem às disciplinas; e as etapas, aos três anos do nível médio de ensino. Logo, devem ser assim assimilados e compreendidos para que se obtenha como produto final o bom rendimento: a aprovação. Se assim não for, muitos continuarão acreditando na ideia de que uma ou outra disciplina é a exclusiva culpada pelos fracassos – e sempre sobra para a Redação.

É o próprio diretor do Centro de Processos Seletivos da UFPA (CEPS), Luiz Acácio Centeno, no site da Universidade Federal do Pará, quem mostra o “caminho das pedras” sobre o processo como um todo ao afirmar que: “Muitas pessoas não atentam para o fato de que, desde que esse modelo foi adotado pela UFPA, existem critérios de eliminação”. Perceba-se que “existem critérios” e não uma singularização recaída sobre a produção de texto. Para ser mais preciso em minhas ponderações, consultei os Editais da UFPA e UEPA, que, aliás, estão lá publicamente disponíveis a quem interessar possa, para não dar nenhum “fora” e constatei 9 (nove) itens responsáveis pela eliminação de um candidato na instituição federal; e 7 (sete) na estadual. Ah, aproveito também para informar a dona Mônica, e às tantas mães e candidatos que se interessam “mesmo” pela avaliação da prova, ou mais especificamente da redação, que o item 11.4 do Edital da UEPA trata justamente dos critérios de correção da prova de redação; e o 8.7, em 10 (dez) subitens, trata com exclusividade, da prova que está por vir.

Outra questão relevante para o entendimento de como funciona o processo avaliativo de eliminação ou aprovação, a considerar a escrita de um texto, é a demanda dos cursos, ora. O fato do filho de dona Mônica ter obtido 6.3 na prova da UEPA e seus colegas terem tirado até mais e não serem aprovados, leva em consideração os cursos por eles pretendidos; injusto, sim, seria se todos eles estivessem pleiteando as mesmas vagas. Num dos cursos preparatórios para o qual presto meus serviços uma aluna que fez 14 pontos na redação foi aprovada em detrimento de outra que obteve 20 pontos e ficou fora. O motivo? A concorrência para os cursos por elas pretendidos. Tenho dito assim aos meus orientandos: uma redação de nota 8,0 pode não ser suficiente para um curso dos mais concorridos como fisioterapia, mas para meteorologia pode dar um primeiro lugar – claro que essa nota somada aos pontos obtidos na parte objetiva da prova; se não é culpa da redação sozinha eliminar alguém, por que haveria de esta também receber o mérito individual da aprovação, sejamos justos, pelo menos aqui.

Ainda sobre o exposto por dona Mônica em seu texto, concordo plenamente com o domínio que um acadêmico deve ter sobre o próprio idioma, mas não tão radical quanto à senhora, ao ponto de afirmar que só por isso não deva cursar uma universidade. Mas se é triste ouvir os inconvenientes da boca de quem não sabe, imagine ouvir daqueles que supomos, deveriam saber algo a mais? Já em relação à importância dada às outras disciplinas, dois elementos, na elaboração da própria redação, que são as relações entre textos (intertextualidade) e entre disciplinas (interdisciplinaridade). Agora é claro que para um candidato fazer uso de tais estratégias é preciso que seus orientadores (nos cursinhos ou nas escolas convencionais) façam uso dos exercícios que evidenciem essas vantagens e demonstrem por meio desses recursos que estudar é um todo e nada é desperdiçado.

Por fim, aos diversos vestibulandos que esperam por uma prova bem tranquila, e sem critérios obscuros para a avaliação, saibam que alguns dos elementos que diferenciam seus produtores e produtos é o quantitativo e a qualidade dos conteúdos aplicados na elaboração do texto. É isso mesmo! Pois se: a prova é a mesma a todos, os tipos de textos propostos (optativos ou obrigatórios) também, o tema idem, as informações dadas pelos professores a mesma coisa; então, o diferencial, muito obviamente, vai ser pelo que cada candidato sabe ou não sobre o tema, pela qualidade de seus argumentos e articulação com as palavras – o que pensa e como manifesta esse pensar em palavras escritas.

Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


VILA DO SORRISO AMARELO

Quem, como bom “pé-redondo” que se preze, não é apaixonado por Icoaraci? Os que me conhecem, e até os que pensam me conhecer, sabem o quanto estimo este “pedaço de paraíso mal cuidado” – e não é pretensioso de minha parte, uma vez que muitas são as pessoas, em família até, que se privam de seus lares para nos visitar. É por isso, também, que eu não deixaria de me manifestar sobre o “visível e olfativo” descaso da Prefeitura de Belém, e na representação desta, a Agência Distrital de Icoaraci, que se fazem “mancomunadas” na indiferença com os cuidados necessários – o que é bem peculiar à grande maioria dos que fazem a politicagem deste país. E a gravidade do que digo é tamanha que até os epítetos: cidade das mangueiras [do município] e vila sorriso [do distrito] estão ameaçados ou fadados a trocadilhos e chacotas.

Mesmo para os que só vêm e vêem Icoaraci como pólo de lazer e entretenimento durante os finais de semana, seja por conta das olarias responsáveis pela projeção do artesanato em cerâmica [principalmente por visitantes, turistas como queiram] ou pelas iguarias e clima de festa da Orla do Cruzeiro, onde, segundo o que ouço, a água de coco deve ter gosto especial; sabem e sentem – aliás, sentem os que não possuem carro de última geração com bom sistema de ar refrigerado que lhes impede ter os vidros abaixados e assim inspirarem o “fétido ar” de certo trecho na Augusto Montenegro, já no quilometro que compreende à Icoaraci, como “cartão de visita” – parece humor de péssimo gosto, não?

O espaço, mais especificamente falando, é em frente a uma propriedade baldia, que fazem parecer duas, no sentido da saída do Distrito, entre o Residencial Rio D’Ouro e a falida sede Chapéu de Couro, bem próximo ao SEST/SENAT – duvido, agora, se as vossas memórias, senhores leitores, não acabou de avisar ao olfato de que local estou falando. A questão, que se esclareça, não é somente com o intuito de culpar ou buscar culpados para a insuportável (as narinas que o digam) situação; ainda mais que o referido terreno possui um proprietário – que, com certeza, só se manifestará quando aquele pessoal do “movimento da reforma urbana” tentar ocupar o espaço. Além do que, os feirantes da Oito de Maio, principal feira livre da Vila, não se cansam de fazer do local seu depósito de detritos – seria importante que cada intenção aqui exposta pudesse estar acompanhada da expressão de asco com que lembro da podridão que de fato se acumula naquele local.

As metáforas a seguir, são só para ilustrar o expresso – mas eu posso, afinal estou lidando com palavras escritas num texto crítico, e a ironia é essência nestes casos; bem diferentes dos administradores e seus “clichês” recheados de princípios demagógicos. Falo de penas e vísceras de frango, pelancas e ossadas de carne, tripas e cabeças de peixes, frutas e verduras estragadas tudo o que “naturalmente” serve aos necrófagos – seres vivos, é verdade, mas nem preciso falar sobre os muitos males que causam aos seres humanos. Urubus disputam aos pisões as carniças; os cachorros arrastam as sacolas plásticas recheadas de lixos como se também tivessem ido à feira; os ratos, em excesso, são mais freqüentes que os gatos – talvez os felinos fiquem à espreita, imaginando os ratos rechonchudos com tanta fartura; além, é claro, das incontáveis “larvas e germes” em banquetes infindáveis.

Adoro as metáforas, mas temo que a má-conveniência – aquela dos interesses pessoais – não permitam a compreensão do que digo, por parte, justamente, dos oportunistas; a quem mais direciono o conteúdo desta mensagem. E assim fez-se o texto: Icoaraci é – não se sabe até quando – a Vila Sorriso. O sorriso vem da boca. A boca é uma entrada – e saída também, por que não – assim como o referido trecho na Augusto Montenegro onde se encontra o tal “depósito a céu aberto”. Um sorriso amarelo é resultado dos maus cuidados com a saúde bucal; e que, além do amarelado dos dentes, provoca, dentre outros, o mau-hálito [o que fede que dói].

Sem contar que o “amarelo” remete-nos à simbologia do partido da prefeitura, não? Entenderam agora...
Não sou político – pelo menos não no pior formato que se possa pensar em um – mas como educador: um formador de opinião e pesquisador dos fatos e acontecimentos de minha época; tenho um compromisso com meus alunos, principalmente, que precisam estar cientes dos ocorridos – ainda mais quando a negligência impera. E mais, que a Prefeitura não se encha da prepotência que lhes é peculiar para dizer que estão fazendo alguma coisa para resolver tal problema. Por que se ninguém lembra, eu reavivarei as vossas memórias sobre quando um amigo denunciou o descaso com a Biblioteca Pública Municipal, e a mesma Agência Distrital, camuflou a situação e “emprestou” alguns computadores para que a imprensa televisiva mostrasse que havia equipamentos e funcionamento. De maquiagem estamos fartos... Ah, uma última questão: será que alguém sabe do roubo que houve na mesma referida Biblioteca no mês retrasado, por conta da falta de segurança e vigilância. Aos icoaracienses não será muito difícil lembrar que já houve crise similar quando toda ela, a Biblioteca, foi saqueada... mas isso é uma outra história.
Texto publicado em O Liberal - Seção: Cartas na Mesa