quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mais um a procura de ABESTADOS...


Esse cara é capaz de tudo mesmo!
Vejam o visual adotado para conseguir mais votos


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O ANALFABETO POLÍTICO

Esclareço de antemão que o título não se refere ao candidato Tiririca, não ainda, muito menos que se trata de uma ideia original, pois é, na verdade, o título de um dos sábios escritos de Bertod Brecht, dramaturgo alemão, referência essa inclusive que já usei em outro artigo aqui mesmo publicado. E minha intenção aqui é provocar aqueles que pensam saber o que fazem e que se utilizam de um tipo de ignorância como arma eficaz para manifestar suas indignações e insatisfações.

Nossa época nos vem revelando o cúmulo da ignorância – algo do tipo: evoluímos em equipamentos e tecnologias para nos convencermos, cada vez mais, que a mesma mente criadora é preguiçosa e tem medo de assumir as responsabilidades sobre as consequências dos atos impensados. Julgamos-nos, e subjugamos os que pensam de forma contrária, representantes de uma geração que “sabe de tudo” e, principalmente, “sabe o que quer”. Daí concluo que não sabe, mas pensa saber; e minha memória resgata um pensamento para justificar essa prepotência ignóbil: “Há verdadeiramente duas certezas na vida: saber e crer que se sabe – na primeira, vivem a ciência e o conhecimento; em crer que se sabe, reside a ignorância.”

Amparados por uma “falsa-lógica” alguns muitos brasileiros irão contribuir para (mais) uma das grandes burradas da humanidade (brasileira); para, segundo os próprios, justificar seus votos em branco, nulos e “em qualquer um”. Se assim não fosse, o provável mais votado deputado federal do Brasil do pleito eleitoral que se encerra no próximo domingo, não estaria causando o maior alvoroço. Isso porque para os pensadores políticos é inadmissível que uma “chacota” desse nível revele a falência das instituições – falo do Tiririca a exemplo de outros tantos aventureiros que disputam o mesmo pleito que o “abestado” – forma como o candidato se apresenta.

O político se torna um homem público, mas o homem público do meio artístico deveria se isentar dessa transição ridícula de querer se tornar notório por aquilo que desconhece. Penso tratar-se de uma clara demonstração de oportunismo da imagem e de sua (agora sob suspeita) oferta de minimizar dores e sofrimentos por meio de seus “fazeres artísticos” – para depois, como Brutus, nos apunhalar pelas costas.

“Vou votar nele por que sei que não vai ganhar...” é a frase que melhor evidencia o descrédito sobre os que acreditam estar recebendo votos de confiança. É a vingança do povo, que escolheu os que cantavam (Frank Aguiar e Wladmir Costa) para nos fazer dançar – e como dançamos bem; e que agora vai eleger “conscientemente” um legislador que (no meio dos maus, se tornará um deles no melhor estilo: “Quem com os porcos se mistura, farelo come.”) será parte do “esquema” e ainda daremos gargalhadas de seus atropelos; já que, pelo menos ele diz a verdade, não saber o que faz um deputado.

Cada um foi bom no que fez, ao estilo do gosto público: Frank Aguiar no forró; Clodovil na moda; Robson no futebol; Wlad na mídia; e está aí uma referência do humor nacional, profeticamente, fadada ao esquecimento; deixará de ser um dos melhores no que faz, para se tornar mais um a ser odiado por todos – e olha que: “quando eu odio eu odio...” [seus jargões serão bem aproveitados, alguns de nós o faremos provar do seu próprio remédio].

Viva a democracia brasileira! Os humoristas! Os jogadores de futebol! As mulheres frutas! Os cantores! E tudo quanto vir nessa próxima enxurrada de coisas estranhas. Pelo menos ninguém estranhará as surpresas que nos trarão as modernas “caixas de Pandora”.
Alci Santos
professor de Língua Portuguesa

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VALORIZANDO NOSSOS VALORES

ZUENIR VENTURA

Acostumados com o clichê preconceituoso que acredita não haver vida inteligente fora do eixo Rio-São Paulo, nos surpreendemos quando encontramos alguma atividade cultural em cidades do chamado "interior" — o "centro" somos nós, claro. Por exemplo: onde é possível reunir cerca de 650 mil pessoas, um terço dos moradores, para tratar de um assunto meio fora de moda, a leitura? Pois acabo de ver o fenômeno em Belém, na XIV Feira Pan-Amazônica do Livro, um dos três principais eventos do gênero no Brasil, este ano dedicada à África de fala portuguesa. Houve shows com Gilberto Gil, Lenine, Emílio Santiago, Luiza Possi, mas o destaque foram os R$30 milhões faturados com a venda de 500 mil volumes, superando, segundo os organizadores, a Bienal do Rio.


Há cidades brasileiras que só vendo. A capital do Pará é uma delas. Além de ser uma das mais hospitaleiras do país, gosta de seu passado e é hoje um exemplo de como revitalizá-lo. Já escrevi e repito que a intervenção que o arquiteto Paulo Chaves fez no cais da cidade, transformando armazéns e galpões na monumental Estação das Docas, é uma obra que não deve nada à que foi realizada em Barcelona ou Nova York (o prefeito Eduardo Paes devia ir lá ver). Outro genial exemplo de reaproveitamento é o centro onde se realiza a Feira, o Hangar, um gigantesco espaço que antes, como diz o nome, servia de estacionamento para aviões.

E não fica nisso. Há roteiros culturais como o do núcleo Feliz Lusitânia e seu Museu de Arte Sacra, onde se encontram uma Pietá toda em madeira, o São Sebastião de cabelos ondulados e a famosa N. S. do Leite, com o seio esquerdo à mostra dando de mamar. Sem falar nos museus do Encontro e de Gemas do Pará, e numa ida a Icoaraci para ver as cerâmicas marajoara, tapajônica e rupestre.

Para quem gosta de experiências antropológicas, recomenda-se — além dos 48 sabores regionais, a maioria, do sorvete Cairu — uma manhã no mercado Ver-o-Peso, onde me delicio nas barracas de banhos de cheiro lendo os rótulos: "Pega não me larga", "Amansa corno", "Afasta espírito", "Chora nos meus pés". Com destaque para o patchuli, que a vendedora me diz ser o odor de Belém. Mas antes deve-se passar pela área dos peixes: douradas, sardas, tucunarés, enchovas, piranhas, tará-açus. "Esse aqui é o piramutaba", vai me mostrando o nosso guia, o cronista Denis Cavalcanti; "aquele é o mapará, olha o tamanho desse filhote".

Desta vez, o ponto alto da visita foi uma respeitável velhinha fazendo o comercial do Viagra Amazônico para mim e o Luis Fernando Verissimo: "O sr. dá três sem tirar, e depois ainda toca uma punhetinha". Isso com a cara mais séria do mundo, sem qualquer malícia, como se estivesse receitando um remédio pra dor de cabeça. Só vendo.

Publicado no Globo de 08/09/2010

SÓ SENDO PARAENSE PRA ENTENDER O TEXTO!



Um dia eu tava buiado, pensei em ir lá em baixo comprar uns tamatás. Só que eu tava cuma murrinha, mas criei coragem, peguei o sacrabala e varei pro veropa. Chequei um pouco tarde e só tinha peixe dispré. Égua, o sumano que tava vendendo tinha uma teba duma orelha... algo assim, do tipo, se nascessem nas costas seriam asas e ele um anjo. O gala-seca num espirrou em cima do tamatá dum tio que tinha acabado de comprar, e no meu tembéim. Ficou tudo cheio de bustela... Axiiiiiii, porcaria! Não é potoca, não. O dono dos tamatá muquiou o orelha-de-nós-todo; mas malinou mesmo. Eu até saí dalí e fui comer uma unha. Peguei logo a mais porruda! Tu é doido... quase que eu levo o farelo depois. Me deu um piriri. Também... perece até que eu sô leso, comer engasga-gato no veropa. Aí eu mudei de ideia e comprei sururu, um cupu e um bacuzão porrudão pra cozinhar no tucupi, muinto fiiiiiirme, mas um pouco pitiú. Depois disso tudo fui pra parada esperar o busão. Vi logo duas pipira varejando fazendo graça. Eu pensando com meus botões: “Já quer...” Só que varô um Paar-Ceasa sequinho e elas pegaro o beco... Fiquei na roça, fui o lara... Eu tava numa panemice, ispia só: além do sacrabala vim cheio, ainda caiu um toró... Égua tédoidé, pensa num bonde socado. Eu já tava esprimido, aí eu gritei pro motora: “éguaaaaaaaa, rumbora logo.” O busão ainda tava com as janelas fechadas por causa da chuva; aí começou aquele calor muito palha. De repente uma tiazinha bem gaga, que tava em pé quase despombalecendo. Daí o velho que tava com ela gritou pra galera: “Arredaí, piqueno pra senhora sentar aí na tua ilharga”. Ahahahahaha... o pivete só fez soltar: “Huuummm, tá cheiroso...”.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O PROFESSOR QUE ODEIA LIVROS

por PAULO GHIRALDELLI JR.
É considerado habilidoso aquele soldado que carrega rapidamente sua arma e em fração de segundos tem o inimigo sob mira certeira. Também é muito apto o trabalhador fabril que ajusta uma peça na velocidade correta, então deslocada na sua direção por uma esteira na linha de montagem. Velocidade e destreza, nesses casos, são essenciais. Essa velocidade e essa destreza, uma vez no campo da leitura, talvez sejam exigidas no e-mail e no twitter. Todavia, valem pouco para os intelectuais que, enfim, se alimentam antes de tudo do livro.
O livro é o campo do intelectual. Não é o campo do estudante que, enfim, é transformado pelos professores, quando muito, no soldado, no trabalhador fabril e no leitor de twitter. O estudante é tirado, pelo professor, da estrada que poderia transformá-lo em um intelectual ou, ao menos, em uma pessoa capaz de autonomia de julgamento. Vítima de pequenos textos em forma de cópia Xerox, o professor tornou-se alguém que perpetua a cultura da pressa e do acúmulo, tornando seu aluno igual a ele próprio, antes um meio leitor que um leitor.
Esse professor é um inapto. Mas o pior é que ele é um produtor de inaptos. Há muito ele caiu no conto de uma das vias da modernidade, a que confundiu rapidez com objetividade. No campo de batalha, o soldado que arma seu fuzil rapidamente e de modo mais veloz ainda tem o inimigo sob mira, recebe o nome de um “atirador objetivo”. De modo menos dramático é o caso do “jogador objetivo”, que finaliza bem e reduz o jogo todo a algo muito chato caso não exista o gol. Essa noção de objetividade desliza erradamente para a atividade do leitor e, então, qualifica o que é o “leitor objetivo”. Este, desse modo, é o que “vai direto ao ponto” no texto e não sucumbe às diversas possibilidades interpretativas. O que deveria ser uma virtude do bom leitor, que é justamente a capacidade de sucumbir às diversas possibilidades interpretativas, indo e vindo no texto, parando para repensar e fazer conexões próprias, agora é o comportamento condenado.
Nessa cultura que a filósofa Olgária Matos chama de o “vamos direto ao ponto”, as palavras subjetivo e objetivo perdem sua melhor significação. Subjetivo não é mais próximo de reflexivo e, sim, de confuso e lerdo. Objetivo continua a ser quase sinônimo de verdadeiro, mas não pela sua qualidade de independência e, sim, pela sua simplicidade e rapidez. Essa confusão de conceitos que criou o leitor de nossos tempos, o leitor não intelectual, é comemorada então pela universidade que abriga o professor inapto.
Esse professor começou sua carreira sem perceber que iria se tornar o que se tornou. Ele não se matriculou em um curso para ser imbecil, é claro. Mas ele não foi suficientemente esperto para escapar da tarefa que ganhou nos primeiros dias de aula, talvez bem antes da universidade, tarefa esta que ele, depois, passou a repetir com seus alunos candidatos a aleijões mentais. Foi lhe dado, logo no início de sua vida escolar, antes a tarefa de resumir textos e colocar “as idéias principais” que a tarefa de compreender o texto e expandi-lo por meio da imaginação, criação e busca de erudição. Assim, de resumo em resumo, no afã da atividade de tornar tudo menor, mais rápido e curto, ele acabou encurtando, verdadeiramente, sua inteligência. Ficou curto mentalmente. Nada lê para criar. Tudo lê para fichar. Até seu mestrado e doutorado foi feito assim, por meio de “fichamentos”. Ele até chegou a ler um manual de metodologia científica que aconselhava o fichamento! Ele se tornou, assim, uma pessoa limitada se sem a menor idéia do que é ser um leitor. Ganhou um “Dr” na frente do nome, que o legitimou nessa atividade que ele acredita que se encaixa na universidade perfeitamente. Exibe esse seu hábito de pegar atalhos, que o torna um símio, e é assim que se comporta: exibe seu método de “fichamento”, resumo, e leitura do crime do Xerox como o macaco exibe o pênis quando vê a fêmea humana.
Paro por aqui, pois já ultrapassei o tanto de linhas que os alunos desse professor conseguem ler. Eu disse os alunos, ele mesmo, o dito professor, parou bem antes, no segundo parágrafo. Esse tipo de professor se tornou um ejaculador precoce. Ele não leva adiante nada que ultrapasse uma lauda, e mesmo assim, às vezes não termina nem mesmo uma lauda uma vez que, precisando de dicionário, não o apanha na estante e tem preguiça de consultar o da Internet, aberta na frente dele.
Publicado: 28/07/2010 por Revista Espaço Acadêmico

PAULO GHIRALDELLI JR é filósofo, escritor e professor da UFRRJ. Site: http://ghiraldelli.pro.br/ Publicado com a autorização do autor.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

QUE PAÍS É ESSE?

Entrevista para o jornal DIÁRIO DO PARÁ sobre a releitura de ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS para o cinema, segundo TIM BURTON

1. Como foi que Alice no País das Maravilhas surgiu?

O escritor Charles Lutwidge Dodgson, aliás, o professor de matemática e fotógrafo, porque como escritor mesmo ele é Lewis Carol, e como todo gênio fora também incomodado por tanta inventividade. Por conta disso existem lendas sobre seus escritos, principalmente sobre esta que se tornou notória para sua coleção de boas literaturas. Ele sempre estava na companhia de amigos a confabular novos feitos; e nas casas dos amigos havia crianças, com as quais ele tinha boas relações. Acredita-se que numa dessas visitas a Alice Pleasance Liddell a segunda filha de Henry George Liddell. Alice tornou-se a maior fonte de inspiração de Dodgson e fonte constante de inspiração para seus dois mais conhecidos livros, embora ao final da escrita de "Alice no país das maravilhas" a amizade estivesse diminuindo, talvez porque a menina que o ajudava a vislumbrar fantasias em mundos encantados e personagens que só existiam na cabeça dos dois. Conta-se que numa das visitas à família Liddell, enquanto passeavam de barca, Dodgson, ou Caroll, começou a inventar uma história louca, de princípio, sem pé nem cabeça, e a menina gostou tanto, talvez pela coincidência do nome da personagem, que o próprio resolveu organizar a história, sem deixar de ser maluca, pois a menina havia gostado daquele jeito, e assim supõe-se ter surgido esse conto de fada moderno. Há, ainda, a especulação, bem procedente também, de que Alice é uma alusão às letras iniciais do pseudônimo (nome falso) de Dodgson, ou seja: L (él) e C (cí), de Lewis Caroll.

2. Qual o valor literário da história de Alice no País das Maravilhas e como podemos entendê-la melhor?

A literatura é arte e como tal é fruto da inventividade humana, essa capacidade que só o ser humano consegue dominar e desenvolver, ainda que algumas outras espécies animais se mostrem engenhosas, mas no caso delas é uma questão de sobrevivência e adaptação. Alice no País das Maravilhas é o surrealismo falado, na modalidade escrita. Não se sabe ao certo se as literaturas, enquanto objeto de uma lucidez inconsciente, foram feitas para ser entendidas. Muitos escritores preferem acreditar que suas histórias são inacabadas, pois o final cada leitor, ao seu modo, é quem diz como deve acabar, basta percebermos as diversas adaptações existentes de tantos outros clássicos da literatura universal. E não podemos classificá-las como uma sendo pior ou melhor que a outra, pois são leituras diversas e devem ser respeitadas como tais; esse é o grande barato da literatura. Um conselho: é bem melhor não querer entender as boas histórias que embalaram e embalam nossos sonhos, pois eles acabam por revelar algumas verdades que não condizem com a fantasia – daí teríamos que nos tornar Alices, para buscar abrigo em países maravilhosos; ou Peter Pans, para fugirmos para uma terra do nunca; ou que um furacão nos leve para bem longe, e quem sabe lá nesse lugar qualquer encontremos Doroth, no mundo mágico de Oz.

3. Fale um pouco, em seu conhecimento, por que as crianças olham para essa obra com fascinação? Será que elas conseguem entender realmente o objetivo da obra?

Tudo o que trás a realidade desvirtuada chama a atenção de quem quer que seja. Não é só a criança que se sente fascinada pela fantasia, a questão é que algumas culturas determinam que adultos têm de ser fortes, frios e, quase, sempre secos. E o encanto da magia, principalmente, provocado pelas narrativas fabulosas, como é o caso de Alice, acabam revelando os verdadeiros adultos que somos, ou seja: não queríamos ser. As crianças entendem sim; e existem obras bem complexas escritas para o público infantil, dentre as quais, Pinóquio, O Mágico de Oz, O pequeno príncipe, a própria Chapeuzinho, são obras de uma época em que parecia que os pequerruchos eram mais prestigiados de intelecto que os nossos, pois estas obras não só “historinhas” são livros. Muito do que conhecemos chega a ser o resumo de uma síntese. Histórias em livro que se consolidam em míseras páginas que suprimem o máximo das boas ideias que há nos originais.

4. O filme que irá estrear será baseado no livro?

Não. Mas não por isso deve ser desmerecido, valerá pelas figuras que representarão figuras, a começar pela direção de Tim Burton e pelo consagradíssimo Johnny Depp, encarnando o Chapeleiro Maluco, que, convenhamos, é a cara de Depp. A história não chega a ser sequer um remaker, pois o enredo é outro. Alice agora não será mais uma menininha, pois a história se passará após 13 anos do final da história conhecida por todos – inclusive, isso lembra a obra de Pedro Bandeira, que recentemente virou filme estrelado pela primogênita de Xuxa Meneghel, O Fantástico Mistério de Feiurinha, que se passa 25 anos depois do “viveram felizes para sempre”. Alice, porém, como adulta que agora é, passará a assumir compromissos de adultos, mas não está, ao que tudo indica, muito preparada ou afim de fazê-lo, por isso, ao descobrir que será pedida em casamento ela foge, e na fuga acaba por encontrar um coelho branco que também corre afoito... Epa, mas essa cena nos já conhecemos, só que ela não lembra disso... Como veem é uma releitura, ao estilo da imaginação de cada um que se encanta com qualquer boa história, basta lembrar que “Quem conta um conto, aumenta um ponto.”

5. Fale um pouco das características e curiosidades dos personagens: Alice, gato, chapeleiro maluco, coelho e rainha de copas.

Antes vale lembrar que a paixão inicial de Dodgson, era a matemática. Talvez tenha se tornado escritor ocasionalmente, e que sorte que, não uma, mas duas de suas obras ganharam o gosto mundial. Ambos os livros infantis de Carroll contêm inúmeros problemas de matemática e lógica ocultos no seu texto. Em Alice no país da maravilhas, a personagem principal entra em uma toca atrás de um coelho falante e cai em um mundo fantástico e fantasioso. Muitos enigmas contidos em suas obras são quase que imperceptíveis para os leitores atuais, principalmente porque contém referências da época em que foi originalmente escrita a obra, piadas locais (Inglaterra) e trocadilhos que só fazem sentido na língua inglesa.

Alice é a protagonista da história, tem cabelos loiros que vivem amarrados por uma faixa preta, segundo as descrições na introdução da história. É bem racional para sua idade e corajosa, e vai fazendo considerações à medida que a aventura prossegue.

Gato Risonho é extremamente independente e consegue desaparecer e aparecer. Além disso, o gato é representado como um representativo da raça British Shorthair, devido à forma da boca, considerada como um sorriso; o bichano seria uma das poucas distrações da menina Alice, a real. Assim como Doroth, acariciava o seu Totó, Dodgson, resolveu prestar homenagem aos felinos.

Chapeleiro Louco e a Lebre de Março são figuras retiradas de expressões populares da língua inglesa, como os nossos ditados, dizia-se: “louco como uma lebre de março” ou “louco como um Chapeleiro”, devido ao vapor de mercúrio usado na fabricação de feltro que causa transtornos psicóticos. O Chapeleiro louco, provavelmente, é uma referência a mais um dos tantos amigos de Caroll que metaforicamente aparecem em suas obras; dessa vez seria um conhecido comerciante de móveis em
Oxford pelas suas invenções pouco ortodoxas e pelo uso de uma cartola na parte de trás da cabeça à porta da sua loja, o amigo era Teófilo Carter. Como nada no País das Maravilhas era normal, ambos mostram-se totalmente loucos (como todos os outros moradores do País das Maravilhas, segundo o próprio Gato Risonho). Estão perpetuamente na hora do chá, outra marca da rígida cultura inglesa, porque, segundo eles, o Chapeleiro discutiu no mês de Março com o Tempo e, em vingança, este não muda a hora para os dois habitantes. O Chapeleiro aparentemente teve problemas com a Rainha ao cantar uma música na sua presença, pelo que esta sentenciou a sua decapitação sob o pretexto de estar a matar o Tempo.

Coelho Branco é quem inicia a aventura, quando Alice o segue até a toca. Ele carrega um relógio e parece estar muito atrasado para alguma coisa. É a parte que representa o Tempo que sempre é citado na obra. Em contraste com a Alice, o Coelho Branco tem medo de tudo (engraçado, porque quem tem medo, segundo as Fábulas de Esopo ou La Fantaine são as lebres, não os coelhos... e há diferenças entre as espécies). Esta oposição foi pretendida pelo autor para enfatizar os atributos positivos da personalidade da personagem principal. E durante o julgamento de um valete de copas (o último capítulo), dá-se uma mudança repentina na covardia, revelando uma vontade de manipular.

Rainha de Copas é talvez a caricatura da mãe das irmãs Liddell (vale ressaltar que antes de mergulhar, literalmente, já que cai num buraco, no País das Maravilhas, Alice estava ouvindo a irmã contar uma história, mas só com palavras o negócio não estava muito agradável, daí Alice resolveu colher flores, perseguir borboletas, até que viu o Coelho branco fugindo). A Rainha é extremamente autoritária e impulsiva, estando constantemente a ordenar aos seus soldados (cartas de baralho) decapitar todos. Porém é apenas uma fantasia dela, já que ninguém morre.

6. O que você espera deste filme? Qual é a expectativa?

O filme será, com certeza, um sucesso já assegurado pela própria obra ao qual se refere e aos seus produtores. Mas ressalto: é bom vê-lo com os olhos da alma, estar despido de pudores técnicos; aqueles olhares de que os torcedores de futebol se amparam para querer escalar os times, se achando tão capazes quanto os treinadores. Cada leitura é uma leitura e deve ser encarada como uma nova possibilidade capaz. A obra que não se permite ser renovada é limitada a se fadar em seu tempo, e as obras que agora ressurgem só estão assim (Deu a louca na Chapeuzinho, Encantada, A princesa e o sapo) porque as estávamos esquecendo e as crianças não tendo oportunidade de ouvi-las, e agora continuam não ouvindo, só veem.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com

VESTIBULAR 2011

“EU QUERO ENTENDER, TAMBÉM...”

Em uma coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira, dia 28 de abril, o reitor da UFPA, Carlos Maneschy, explicou as novidades no Processo Seletivo 2011 da Universidade. Na terça-feira, o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) decidiu adotar o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) como uma das fases da seleção para ingresso na Instituição.

O reitor explicou que o ENEM é um importante instrumento de avaliação do ensino médio e para o ingresso no ensino superior no país. “Participaremos do ENEM como uma experiência, mas também realizaremos uma segunda fase elaborada pela UFPA. As duas provas terão o mesmo peso na nota final dos candidatos que entrarem na UFPA em 2011”, resumiu Carlos Maneschy. A 1ª fase do vestibular da UFPA, que consistirá na prova do ENEM, deverá acontecer no mês de novembro e a 2ª fase em dezembro, antes dos feriados de fim de ano. O Listão de aprovados deverá ser divulgado nos primeiros meses do ano que vem.

Dessa forma, os conteúdos abordados em ambas as fases são os definidos pelas matrizes curriculares do ENEM englobando os eixos temáticos... A prova elaborada pela UFPA deverá conter, também, abordagens regionais. As diferenças entre o conteúdo programático do Exame Nacional e o da UFPA se concentram, principalmente, nas provas de Literatura e suas respectivas leituras obrigatórias, e nas provas de línguas estrangeiras. O ENEM não possui leituras obrigatórias ou prova de Literatura, mas estes temas estarão na 2ª fase do vestibular que será realizada pela UFPA. Neste caso, o conteúdo programático é o mesmo do ano passado.

A mesma situação acontece em relação às línguas estrangeiras. Até o ano passado, o ENEM também não possuía prova de idiomas, mas o Ministério da Educação anuncia a intenção de incluir este tipo de avaliação no Exame deste ano, porém, apenas as opções de Inglês e Espanhol. As provas de línguas estrangeiras na 2ª fase do vestibular da UFPA, ofertadas tradicionalmente, continuarão com cinco opções aos seus candidatos: Inglês, Espanhol, Alemão, Francês e Italiano.

Os candidatos farão uma única redação, a do ENEM, e esta será a única parte dessa primeira fase do vestibular da UFPA a ter um ponto de corte. Os exames de habilidades para os cursos de Artes, como Teatro, Dança, Música e Artes Visuais, continuarão a serem realizados pela UFPA. Em relação ao sistema de cotas, não haverá alterações em relação aos percentuais de vagas reservadas. “Como a seleção ficará totalmente sob responsabilidade da UFPA, preservaremos os percentuais”, resume o reitor.

“Muitos detalhes devem ainda ser acertados em relação ao vestibular, mas eles serão tratados pela Comissão Permanente de Processos Seletivos (COPERPS), pela Pró-reitoria de Ensino de Graduação e pelo Centro de Processos Seletivos (CEPS) e por uma comissão formada por eles”, justifica o reitor da UFPA. A previsão é de que o Edital com todas as regras e prazos do concurso seja publicado até o final do mês de junho.

Glauce Monteiro
Assessoria de Comunicação da UFPA

NEM DEBATE ENEM DECISÃO

Com muita sinceridade gostaria de saber dos gênios que comandam as políticas da educação no nível superior no Estado do Pará, por que insistem em brincar com a inteligência de quem tanto quer “ser alguém na vida” e acredita que para isso a educação é a melhor via de acesso.

É de indignar que nós, professores, tenhamos, com muito esforço, conseguido liberação de algumas instituições de ensino, nas quais nos sacrificamos para encaminhar alunos com a melhor das mínimas condições de acompanhar o currículo do 3º grau, e a “galera cabeça” que gerencia as universidades, faculdades e os processos seletivos não nos ofereçam sequer satisfações do que fomos lá fazer – lá, é na UFPA, por ocasião de uma convocatória à sociedade para discutir o formato do vestibular 2011, que até agora não tem norte. Depois não temos por que nos surpreender com as “trapalhadas” ocorridas, como as do ano passado, seja com o Exame Nacional do Ensino Médio – o qual nos querem a qualquer custo empurrar goela abaixo como fórmula perfeita para o ingresso ao curso superior (perfeito para quem, se não há investimento suficientemente necessário para condicionar os secundaristas ao processo seletivo?); seja com o vestibular em si – com o episódio/papelão da Universidade Federal do Pará em sua 1ª fase do processo seletivo.

Mas o certo é que fomos ansiosos a participar de um debate, mas os organizadores, não sabemos se por conveniência ou mero esquecimento, não souberam conduzir a assembléia como se propôs; isto é, foi tudo, menos um debate. Não podíamos nos manifestar para confrontar as proposições ou nos posicionarmos contrários ou mesmo para ratificar boas intenções, calados entramos e mudos saímos. Falávamos ao vento, resmungávamos com nossos companheiros que lá estavam na mesma expectativa, frustrada ao final.

E quando nossos diretores (os mesmos que relutaram para nos liberar sem perceber que íamos em busca de informações importantíssimas para aplicarmos nas próprias instituições que eles coordenam) perguntaram, assim que retornamos: “Quais as novidades?” – mesmo esperando o pior – e não lhes demos retorno algum, nem o pior que eles esperavam, fomos alvo de piadas, chacotas e até hostilidade; porque é assim que, ainda, tratam profissionais da educação por aqui. Taí o que fez conosco a UFPA, para não me deixar mentir: marcou um debate que não houve; e olhem que estávamos todos lá: professores, coordenadores, reitores, técnicos, pesquisadores, pensadores, só não convidaram o tal do “debate” para participar. O procedimento foi o seguinte: começou com o disparate de que representantes das Universidades Federais do Amazonas e do Mato Grosso é que vieram apresentar como deve se dar o processo no Pará, vejam só: nossos “atrapalhados” gestores do ensino superior estão com dificuldades de encaminhar o processo de ingresso nas instituições que administram, estranho isso, não? Mas não sejamos hipócritas, vieram falar do sucesso de suas experiências lá, em seus territórios... Será que somos mesmo tão iguais assim? Com a saúde pessoal os médicos advertem sobre o uso de medicamentos para o tratamento de um mesmo mal a pacientes diferentes, por questões de características bem peculiares, genéticas, alergias e outras possíveis contra-indicações. Seria pessimismo demais de minha parte pensar que isso possa se aplicar também ao não respeito às particularidades de nosso sistema de ensino? É bom termos cuidado – prevenir para não remediar.

Quando quisemos intervir, fomos amordaçados. E nossa única opção era através de intervenções em língua escrita, sendo que nossos interlocutores “escolhiam” por conveniência o que queriam e podiam responder. Resultado: respostas vagas e repetidas – e todos que compunham a mesa fizeram questão de fazer uma fala de ratificação, puro pleonasmo (seis por meia dúzia).

E não foi só isso, foram enfáticos, os “sei lá quem”, que os regionalismos aplicados aos vestibulares com autonomia dos estados, não são tão relevantes para o novo modelo de vestibular (sapo = ENEM). O argumento? Somos um país só! Égua, por que então nos tratam de forma igualitária também? Por que tudo e todos têm de espelhar no sul e sudeste, no máximo vem ao nordeste, mas não passa do Maranhão. Quer dizer que de lá de fora (aqui mesmo no Brasil) pode vir qualquer um, aí temos: UEMA, UNIP, ULBRA, UVA, ESTÁCIO, UNIUB... Mas será que há UNAMA em outro lugar que não aqui? Puxa, quanta igualdade.

Por fim, o Magnífico Reitor fez aquela “capa” típica de figurões do alto-escalão, compôs a mesa de abertura, fez as honras da casa, para os de fora, principalmente, e, se soube, minimamente, do que houve, foi porque algum assessor escreveu sobre o (mal) ocorrido.

Daí, ficamos sabendo, já bem depois, que uma coletiva foi marcada às 15h; a nós, soou como uma forma de acertar algum mal-entendido, justificar alguma falha, aparar alguma aresta... Mas não estávamos mais à disposição; voltamos às salas de aula, porque nossos diretores não acreditaram em nós. E aí ficamos na mesma: o Bruno Brasil voltou pra sua Biologia, o Genisson Rodrigues pra Geografia e eu pra Língua Portuguesa, pois pelo menos sobre isso, pensamos nós, sabemos algo.


Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

É PROIBIDO PROIBIR

Penso (e já proporcionei aos meus alunos um debate sobre o tema) que o poder público deva ter muito mais com o que se preocupar que com impedimentos nas salas de aula. Ora vejam só! Algumas questões, de fato, não podem ser deixadas de lado, ainda mais quando há gravidades que se reverberarão nos comportamentos e atitudes dos indivíduos que nas escolas se encontram em processo de formação.

A vida humana já vem sendo desrespeitada sem que para isso seus donos aceitem, permitam ou concordem com o que lhes impõem, principalmente nos espaços em que se busca algum tipo de qualificação para melhor viver. Com a escola não haveria de ser muito diferente. São tantas as imposições de modo que estudar foi se transformando (se desconfigurando, para ser mais enfático) numa atividade simples, óbvia, maçante e sem atrativos reais que, principalmente, situe o educando em seu tempo e espaço, fazendo-se funcional e sem formalismos tradicionais.

Ao discutir a questão da proibição do uso de celular nas salas de aula, voltemos um pouco no tempo e nos lembremos dos “gibis”, que também foram “crucificados” numa época em que se acreditava que só as cartilhas, o caderno, o lápis e o quadro eram suficientes (e o professor?). Daí, o mundo evoluiu, a sociedade se desenvolveu... e algumas mentalidades retrogradas deram vazão às novas tecnologias e tendências. É assim que deve pensar quem lida com pessoas, ainda mais as que estão em processo de “lapidação”. Porque é o público juvenil que está mais modernizado – e não atualizado; porque é dessa forma que se pode reverter a situação: canalizar os meios modernos para a funcionalidade, para a praticidade dos recursos que se tem a mão. Já é possível encontrarmos escolas que foram taxativas quanto ao uso dos celulares, mas que souberam reavaliar suas posturas e adotaram métodos de inclusão do recurso de modo que os mesmos se tornaram ferramentas quase que fundamentais para a comunicação moderna e para o próprio processo de ensino e aprendizado.

Na capital paraense, por exemplo, uma universidade até discutiu o tema em seu vestibular, e foi relevante o desempenho das redações, pois muitos dos candidatos haviam passado, recentemente, pela situação; e a discussão passou pela “conveniência ou não” do uso do aparelho.

Ao bem da verdade, somos sabedores da máxima de que “há males que vêm para o bem”, que seria, porém, melhor aceita, se analisada às avessas; pois há muito mais bens que são utilizados para o mal do que se possa imaginar. Afinal, Santos Dumont não idealizou o avião para ser uma das mais eficazes armas de guerra. Nem Júlio Verne sugeriu em sua literatura (Vinte Mil Léguas Submarinas) que os submarinos os fossem também. Com o celular não é diferente, assim que alguém o inventou para facilitar a comunicação, um outro alguém pensou que daria muito mais “dividendos” se utilizado para outros fins que não os devidamente corretos. Daí os celulares munidos de alto nível tecnológico, muito mais que elemento canalizador da comunicação, verdadeiras “armas” as câmeras, os gravadores de vozes; culpa dos alunos? Claro que não. É o avanço quem pede, é a evolução quem exige; e as pessoas só seguem as tendências da modernidade. Mas é inegável que a discussão deva se dar no âmbito da “conveniência”, não da proibição.

Outra questão que não se deve perder na discussão é o fato de querermos sempre taxar um ou outro de culpado pleno pelos problemas em qualquer fase da vida e em qualquer situação; principalmente quando se trata da educação e da juventude. Culpar a família ajuda, realmente, a resolver o problema quando ele, de fato, existe? Culpar a escola alivia a quem, afinal? A indisciplina é problema de todos, assim como é de todos, também, a solução. No entanto, que existem educadores, na plenitude da palavra – dos pais aos professores, que não sabem como agir, porque, principalmente, não se definem quanto às posturas, ah, isso tem e muito. Desde aqueles que explicitamente dizem aos filhos: “Se perceber que está no seu direito, grite, discuta e até bata, se preciso for...” aos que entendem que o bom desempenho de seus filhos depende do acordo e da harmonia que há entre as partes interessadas.

Uma outra questão muito séria discutida, e exposta no depoimento de um educador á Revista Pedagogia & Educação, é quanto aos direitos. Direito a quem afinal? Pois a pauta é o rigor sobre o uso de celular nas salas de aula. Só que ninguém discute o desrespeito aos profissionais que na ocasião estão na sala de aula desempenhando seu papel de facilitador e transmissor de conhecimento e informação, é o dever dele, certo? Mas e o direito ao respeito? O respeito à sua formação, ao seu empenho, aos seus estudos, à sua responsabilidade; são remunerados para isso, é obrigação, dever... mas todo dever é pautado numa reciprocidade: os direitos de um começam quando terminam os do outro; e essa falta de visão pautada na unilateralidade coloca em “xeque” o direito do professor, dos técnicos que são responsáveis pela ordem do espaço que é o de ensinar e aprender. Se assim não for, por que reclamar de professores espancados, mordidos e ofendidos frequentemente? Ou de jovens estudantes que, ao celular, atenderam ao chamado dos pais?

Por fim, é de se perceber que o celular em si não é o problema. Há na discussão uma batalha de vaidade: quem e o que pode ser feito; e quem e o que não pode ser feito. Quanto ao local tanto faz se na escola, no restaurante, na igreja, ou em casa mesmo, é preciso perceber, compreender que nossa sociedade é regida por preceitos que, pautados na cidadania, determinam o proibido e o licenciado. Prudência e conveniência são posturas a serem tomadas antes de aplicar ao material, objeto – seja o celular, o boné, os brincos, piercings, tatuagens, óculos, camisetas – qualquer culpa que caiba à mente de quem só vê o mal onde ele justamente não existe ou não está.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

quarta-feira, 10 de março de 2010

A NOVA ROUPA NOVA DO IMPERADOR

Sobre o caso de Adriano, o imperador da Gávea, inicio lembrando a todos que “cada ‘nação’ tem o imperador que merece” e parece que a história não cansará de se repetir. Às vezes, é preciso um pouco mais de atenção para perceber que a vida imita a arte, ou seria o contrário?

Lembremos aqui, algumas fábulas que muito bem ilustrariam a situação pela qual passa um dos talentos rubro-negro, no momento. Dentre elas “A roupa nova do imperador” contada por Handersen, em que a vaidade de um soberano não o permitia ver a realidade de seus súditos que muito o amavam, mas não se conformavam com suas atitudes egocêntricas. Foi preciso a inocência e a sinceridade de uma criança para fazê-lo ver o que estava fazendo consigo e com a sua “nação”. Além da postura de imposição soberana e soberba que o coloca num pedestal de onde ninguém ousa dizer-lhe contrariedades, fazendo-os ver até o inexistente, ratificando o adágio de que “o pior cego é aquele que não quer ver”.

São inegáveis as qualidades de Adriano como atleta em ação. Pois ele sabe, como poucos, fazer uso de sua estrutura corpórea sem agredir ou machucar fisicamente nenhum adversário. O problema talvez seja a falta de controle emocional de Vossa Majestade.

Em tão pouco tempo é segunda vez que o imperador se envolve em problemas de ordem emocional. Na primeira ocasião foi sua fuga/retorno ao Brasil, em que procurou o refúgio suburbano na Cidade Maravilhosa – aí tudo bem, é preciso estar muito longe e a um certo tempo para percebermos que o melhor lugar do mundo é o nosso, seja ele onde for; até mesmo na favela ou nos morros, quem dirá que não?

Mas o que aconteceu com toda aquela alegria de quando entenderam (italianos e brasileiros) sua situação e o deixaram ficar por aqui? Será esta a verdadeira roupa do imperador que muitos faziam não ver só para não contrariá-lo e assim irmo-nos enganando até que alguém pisasse na barra de seu manto e todos vissem quem de fato é?

Adriano não é uma má pessoa, como também não o era o imperador da fábula; mas ambos se entregaram a caprichos que lhes levaram a derrocadas; e ambos tiveram uma segunda chance. O imperador da Gávea, porém, não se conteve apenas com a segunda oportunidade, deve pensar que um soberano, ainda que sem trono, deva ter quantas lhe convir. Alguém tem de dizer-lhe que as coisas não são bem assim. Ele não pode configurar no rol dos grandes gênios do futebol que acabaram com suas carreiras em detrimento de caprichos e prazeres, afinal, ele é muito mais que qualquer outro; ele é o imperador.

Vale ressaltar que o imperador da fábula tinha as medidas impróprias para um atleta, tal qual o nosso. Vossa Majestade sempre passava com pompa e postura e todos aplaudiam, mesmo contrariados com as atitudes dele em relação aos súditos. Adriano sempre fez muito pelo time que defende e diz amar, e quando está em cena também é ovacionado e desde que faça gols ninguém repara para suas medidas desproporcionais – para a condição de um atleta. Só gostaria de entender por que o tratamento para Adriano é diferenciado do de Ronaldo, já que parte dos problemas de ambos é a balança. Mas penso que mais uma vez é pelo status Ronaldo é fenômeno e não imperador.

Toda corte fabulosa há realeza, criadagem, anfitriões, cortesãos, sábios conselheiros e um bobo, para animar o ambiente; na realidade nosso imperador perdeu a noção das coisas e deixa a todos com cara de bobos.

Na história real do camisa 10, que um dia já cobriu um certo “galinho de Quintino”, também é possível perceber a fábula do “ O patinho feio” com as mesmas analogias do criador Handersen; o menino pobre que se torna célebre pelos seus feitos: Handersen na literatura e Adriano com a bola nos pés. Mas também pode ser algumas histórias às avessas como “A princesa e o sapo”; ele, o imperador, não recebe o beijo como sapo e vira imperador... Muito pelo contrário, é o, já coroado, imperador quem recebe os beijos, e algo a mais, das “princesas” que dele se aproximam e aí vira sapo, fica feio – principalmente por conta de posturas desconcertantes e escândalos seguidos.

Outra fábula a que se assemelha a história real de Adriano é a do “lobo em pele de cordeiro” esta contada pelo francês La Fontaine; só que confio tanto na simplicidade desse cara que acho que também em sua história há uma “inversão de valores”. Ele está mais para “cordeiro em pele de lobo”, parece-nos que quer ser “bad-boy”, mas isso ficou para o Edmundo, para o Romário e outros que eram maus mesmo. Adriano, apesar de sua forma robusta, tem jeito de ser só coração – mas quem vê cara não vê coração, e o que os olhos não veem o coração não sente... Por isso, nada de meter a mão no fogo; ainda mais quando pequenas faíscas começam a chamuscar.

Em fim, o imperador não sabe ao certo o que vestir: se o manto real que os rubro-negros tanto exaltam e o fazem também com quem o veste – se bem que eu prefiro outro manto que lhe cabe bem, aquele verde e amarelo; ou se os trapos estilhaçados em virtude das atitudes equivocadamente tomadas para provar de que é o soberano e de que tudo pode – sem poder; ou a roupa invisível que é conveniente apenas a quem quer ver, tanto a ele mesmo quanto aos seus súditos; mas uma coisa é certa: ele tem de se despir dessa imagem degradante, decadente e desagradável a qual se submete por não entender, ao certo, o que quer afinal.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

VIROU TIMBOTEUA

Lembro que das vezes que ouvi tal expressão, a mesma sempre esteve associada à bagunça, desordem e coisas do tipo; e dessa mesma forma a utilizei por algumas diversas vezes. No entanto, conheci, por ocasião do carnaval, a Nova Timboteua – não uma “nova bagunça”, muito pelo contrário...

A considerar que o carnaval é uma festa na qual ordem ou desordem não fazem muita diferença, pois cada um vai e sai como quer ou bem entende, desde que justamente deixe os padrões e convenções de lado. Pois a ordem – de comando, e não de organização – do Rei (Momo) é transgredir – com tranquilidade, respeito, segurança e paz – talvez, até, preceitos bem modernos para um rei tão antigo – a considerarmos, é claro, que nossa época é bem mais insegura, daí a preocupação de sua majestade.

Mas voltando à Timboteua... A cidade e as pessoas são cúmplices de uma hospitalidade, de uma prestatividade, e de um carisma que só quem ainda não conhece a cidade sequer tem noção do que perde. Aliás, é assim com tantos outros lugares no Pará que precisam ser conhecidos.

Com o carnaval conseguiram superar a ordem aplicada à desordem – a boa desordem carnavalesca. Uma festa popular muito bem organizada, da qual os moradores das vilas que se agregam e formam o território municipal, assim como muitos outros de municípios vizinhos – Salinas, Santarém Novo, Peixe Boi, Quatipuru, Bonito – estiveram efetivamente presentes; não apenas para “apreciar”, mas estiveram no meio da folia, na avenida do samba, no auge da alegria; assim como os que de outras regiões, como eu mesmo da capital, deram, por lá, o ar de suas graças, e ajudaram a ratificar Nova Timboteua como uma cidade boa mesmo de fazer festa – isso porque todos já conheciam a Festa do Mingau, para a qual meu convite já está assegurado e minha presença garantida.

Muito legal a forma como a Secretaria de Assistência Social encaminhou o processo do carnaval desde o planejamento à execução dos concursos: Perua do Carnaval, Rainha Gay, Rainha das Rainhas e o belíssimo Desfile Oficial, que contou com quatro boas agremiações que estão de parabéns, com uma pequena restrição: a de que não adianta o poder público investir na qualidade e potencializar o que de melhor tem no lugar para que mantenhamos pensamentos retrógrados e provincianos. Onde por um acaso alguém ouviu falar que uma simples candidata do Rainha das Rainhas do Carnaval, evento dos mais conhecidos do gênero, no Norte do País, será ou deveria ser a eleita ao se deslocar para os interiores do Estado. Isso é pensar pequeno. Querer ludibriar a inteligência das pessoas é demais. O carnaval é belo, dentre outros motivos, justamente, pela inventividade, criatividade e originalidade – ainda que “no mundo nada se crie, tudo se copie”, mas que se use, pelo menos da sutileza – afinal eu assisti ao desfile das Rainhas no Hangar.

Porém, o incidente acima exposto, não tirou nem ofuscou o brilho dos blocos, dos quais, inclusive, o acima mencionado, cuja candidata homenageou Clara Nunes, sagrou-se campeão do carnaval 2010, em Nova Timboteua; e muito justamente avaliado por tudo o que apresentou na avenida. E a lisura dos processos seletivos, fez com que cada uma das agremiações, democraticamente, fosse contemplada com uma das premiações disponíveis: A perua do carnaval 2010 é do Bloco Fura Olho; A rainha gay é do Bloco Vem Que Tem; A rainha do carnaval é do Bloco Me Beija; e o bloco campeão do Timbófolia 2010 é o Bloco da Paz. O corpo de jurados foi o mais idôneo possível, pois nenhum deles, dentre os quais, eu, nunca tínhamos ouvido falar no carnaval daquela cidade – no máximo, a conhecia por ser passagem quando ia a Salinas, visitar meu pai.

Em fim, foi uma festa sem igual, com justiça a todos que trabalham só em prol do bem-estar das pessoas da comunidade. Estão de parabéns os timboteuenses. Para o ano que vem, fiquei sabendo, haverá mais bloco se preparando; assim a disputa vai acirrar de modo a ampliar o empenho de todos, e a concorrência só tende a garantir um acréscimo na qualidade do que se vai oferecer: carnaval com qualidade.

Precisamos disso: divulgar tantos outros carnavais. Torná-los cada vez mais notórios, como hoje já contamos com outras peculiaridades da época, que não apenas os desfiles oficiais de escolas de samba; assim foi e vem sendo com: as vigienses, na Vigia; os pretinhos do mangue, em Curuçá; os mascarados fobós, em Óbidos; a bicharada, de Cametá; e outros mais que existem em cada canto desse país que é o Pará.

Agora sim! Quando alguém disser que, se não houver ordem, a situação pode virar “Timboteua”, eu direi que não tem nada a ver uma coisa com a outra... Não com a Nova Timboteua que conheço.
Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Arte-Educador
professorsantos@bol.com.br

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

PARÁ: AME-O... OU FUJA!


Não pretendo revidar ou ser considerado o defensor das ações governamentais, pois tenho certeza que existem pessoas muito mais gabaritadas para fazer isso, principalmente neste governo, que tem toda uma base intelectual – de artistas a educadores – comprometida, não com promessas eleitoreiras, mas com as reais necessidades sentidas há tantos anos (e ponham tantos nisso).

É deprimente ler ou ouvir desabafos que levam em conta a particularidade de quem se sente agredido ou não-abarcado por ações sociais – e ninguém pode neear que tais ações não existam... Só pensam assim aqueles que gostariam que as ações governamentais estivessem dispostas às suas portas, e somente a elas, de preferência; algo do tipo: “Dane-se o mundo Eu estou bem, é o que importa.” E, acreditem, seríamos bem mais felizes se gente assim como vocês não fossem paraenses ou se não estivessem aqui – pois o que a naturalidade de um indivíduo tem a ver com sua insatisfação política?

É de fato deprimente que alguém julgue toda uma vida, toda uma história, toda uma evolução e criação – e é do espaço físico (Estado do Pará) que estou falando – por ações das quais muitas vezes a ignorância de quem assim se manifesta: “Eu sinto-me envergonhado de ser paraense...” (sem sequer se importar com o uso grotesco da língua pátria e se expõe ao ridículo – pleonasmo agressivo aos olhos e aos ouvidos). Ignorância naquele sentido que o dramaturgo alemão Bertold Brecht, em seu “Analfabeto Político” faz questão de reprimir: “O pior analfabeto / É o analfabeto político, / Ele não ou6e, não fala, / Nem participa dos acontecimentos políticos (...) Não sabe o imbecil que, / da sua ignorância política / Nasce a prostituta, o menor abandonado, / E o pior de todos os bandidos, / Que é o político vigarista, / Pilantra, corrupto e lacaio / Das empresas nacionais e multinacionais”

Parece-me, e espero estar enganado, um tanto oPortunista tal discurso, infundado, mas discurso, sobre a violência no Estado; que é uma realidade, mas não uma particularidade deste Estado. Se assim for, sugiro aos insatisfeitos que esqueçam: as diversas praias paradisíacas disponíveis até aos que nem ligam para suas belezas e deixam os resíduos de suas “farofas”; os diversos igarapés com águas cristalinas que resfriam até a alma dos mais estressados; a refrescante vegetação das poucas áreas verdes, que mesmo poucas em nossa região, é muito diante da devastação em outras regiões; esqueçam da diversidade cultural de cores, sabores, sons e odores em plural e significativa brasilidaDe; esqueçam da gentileza e hospitalidade das pessoas mais simples, porque só elas sabem “fazer o bem sem olhar a quem” – e o pior é que os oportunistas sabem disso – esqueça de tudo isso, caros insatisfeitos, e fujam... Para o Rio quem sabe, onde a violência é tão comum que vira festa como tema no carnaval; ou para o Caribe, onde a natureza cansada de ser explorada e desrespeitada demonstra sua fúria com ações arrasadoras; sei lá, para a Chechênia, quem sabe, já que não se fala mais em guerra por lá... Não vá para o Tibet, pois nem os “zens” conseguiram segurar a onda da “PAZ”... ou então procure Alice, no País das Maravilhas... ou ainda, pergunte ao poeta Manuel Bandeira como... e vá para “Pasárgada”.

Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa apaixonado pelo Pará
Contextualização:
O texto acima foi publicado na seção CARTAS NA MESA no dia 07/09/2008 e foi uma resposta a um texto, ou tentativa de um, com o “devido” respeito, que foi publicado na mesma seção no dia 03/09/2008, sob o título TEMORES DIANTE DA INSEGURANÇA no qual seu autor, ou tentativa de um, com o “devido” respeito, demonstrou-se descontente com o elevadíssimo índice de violência no Estado, o que também me deixa indignado, mas que acabou se enrolando na forma de dizê-lo e acabou declarando sua “vergonha” em ser paraense... segue o texto:
TEMORES DIANTE DA INSEGURANÇA
Senhora governadora, estou decepcionado com a segurança em nossa cidade. É uma vergonha os bandidos deitarem e rolarem como bem entendem, e o Poder Público não tomar nenhuma providência eficaz para, pelo menos, amenizar tanta violência e mortes prematuras por falta de segurança em nossa cidade.Eu sinto-me envergonhado de ser paraense diante de um governo incompetente e ineficaz, com relação à segurança do nosso Estado.
Edson Souza de Lima
Belém

PAGANDO O PATO

Meus alunos confiam tanto em mim, que em questão de minutos, logo após as treze horas do dia 10/01 – último domingo – fiquei sabendo de como havia sido a esperada e odiada (agora mais ainda) prova da 1ª fase da UFPA; situação que se configurou como mais uma novela, aliás, dramalhão bem chulo, no pior estilo “pastelão mexicano”.

Muitos candidatos que buscaram o gabarito da prova de domingo foram surpreendidos com a média de acertos que, em muitos casos, foi inferior ao que haviam conseguido na primeira ocasião. Convenhamos que isso é de preocupar qualquer um, do mais graduado ao aspirante; então por que pensar que os candidatos é que são os únicos responsáveis por seus fracassos quando é mais que evidente que, neste caso, não são.

Trata-se de uma grande verdade que ninguém deveria estar se lamentando sobre o que foi cobrado agora em prova, uma vez que o conteúdo se manteve o mesmo; logo tudo o que foi pedido na etapa de domingo, ou antes mesmo, deveria ter sido estudado, absorvido, aprendido, apreendido, em fim. Um programa único sobre o qual se deveria basear a preparação do candidato e deixá-lo condicionado para o que “der e vier”. Mas assim não o foi porque a irresponsabilidade de “um” dito profissional – que inclusive vem tendo seu nome vinculado a chacotas por conta de outros também ditos “profissionais” da mesma área – que fez os demais “profissionais” se irritar, por ter de trabalhar um pouco mais, e que, ao que tudo indica, resolveram “punir” a todos.

É uma pena que de fato estejam querendo jogar na lama a única base possível de dar jeito em alguma coisa nesse país. Primeiro o ENEM, depois a UFPA, que fez o que fez e ainda nos afronta com publicações estampadas nos jornais, nas quais divulga o prejuízo do processo até aqui e sua não condição de executar as etapas seguintes pela falta de recursos. Quem pagará por isso? Nós de novo, com certeza!

O mínimo da sensatez e do respeito que se deve ter por quem paga (em valores reais e em reais) para provar que sabe o que querem que prove que sabe, não deveria trazer aqui quem quer que seja para defender a universidade e argumentar de que somente os aspirantes a acadêmicos é que são culpados por não entenderem nada – de fato, eles e nós, que os ajudamos, na medida do possível, com base em “seus” programas, ainda não entendemos nada do que aconteceu com esse processo; e, com certeza, ficaríamos mais insatisfeitos, tristes e aborrecidos se entendêssemos. Mas como o escândalo é bem maior do que se pensa e por conveniência o caso foi abafado, quem vai (tentar) explicar?

Mas tudo bem, percebemos que cada vez mais estamos sós; e que, se há alguém ou alguma coisa que podemos fazer para esquecermos tal inconveniência ou despropósito, somos nós mesmos; estudando um pouco mais para compensar o “papelão” pelo qual nos obrigaram a passar – e essa fala final não é de conformismo, pois não tomar atitude é só o que querem os que abusam de nossa boa vontade.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

UMA FORÇA PRA GALERA!


A todos que farão a esperada (e até odiada, neste caso) prova da 1ª fase da Ufpa, no próximo dia 10, gostaria de ajudar ao meu modo dizendo: “Se há algo que não se deve levar para a prova de domingo é desespero.”

É de fundamental importância que haja muita, mas muita, tranquilidade neste dia; ele é único e deve ser o último também, pois ainda que você se submeta a outros processos seletivos, que sejam em “pós-graduações”. O processo será seletivo, mas agora em circunstâncias bem diferentes e você estará mais seguro de si – como deve se sentir também neste momento: autoconfiante.

Sem sobressaltos às vésperas, e excessos só de certezas. Seja honesto com você mesmo e ciente de tudo o que fez para estar bem condicionado para o momento certo; e que poderá ser só seu – ainda que tantos outros também pensem assim e tenham “seus” momentos – porque é assim que é quando acontece de os resultados serem divulgados: o momento mágico e único de cada um que se esmerou para estar ali, insuportavelmente sujo, fedido e embriagado... mas feliz.

As dicas certas para uma prova tranquila são todas aquelas que foram ditas em sala de aula e fora dela, nos momentos de descontração e bate-papo com os professores nos intervalos entre uma aula e outra, pelos canais de comunicação eletrônica e também pelos meios mais rústicos como os “bilhetinhos” que lotaram as lixeiras após cumprirem seus papéis de revelar dúvidas e alcançar esclarecimentos.

Se quiser tranquilidade na realização da prova, por opção própria – ainda que minhas palavras pareçam indutivas – comece a resolvê-la pelo que sabe ou pelo que goste, já que muitas vezes acabam por se complementarem. Daí você terá a sensação que tanto almejou para não temer uma prova dada como “missão impossível”.

Dentre outras tantas certezas que você precisa ter, quero ressaltar as de que você estará mesmo calmo, paciente e que seu corpo e sua mente estarão relaxados, descansados. A ciência de que tanto falo é a de que ficar acordado até bem tarde, no sábado, não o ajudará em nada – absolutamente nada! Isso porque você “encucou” de que determinados conteúdos que foram pouco explorados ou absorvidos durante a preparação serão os tópicos centrais da prova... E, sinceramente, você acha que serão as poucas, mas sagradas, horas do seu descanso que irão resolver esse tipo de problema, fala sério!

Um forte do candidato que se enquadre em tudo o que aqui expus para fazer uma prova sem medo de ser feliz é aceitar que a leitura é o elemento-chave para o entendimento da prova como um todo, e não uma particularidade das disciplinas da Comunicação. Acertar ou errar, nesse contexto, depende bastante do que você entendeu daquilo que te pede cada questão; ou seja, o conhecimento adquirido na preparação só será aplicado depois que souber o que o comando quer que você faça – lembre-se a prova é imperativa e não opcional.

Há quem faça especulações às vésperas, terrorismo psicológico e queira nos derrubar só no “bafo”. Por que qualquer parte da prova haveria de apresentar um grau maior ou menor de dificuldade? Para justificar a falha de quem? A universidade não irá punir você com questões diferentes do que foi feito antes, usará do princípio de que o cobrado está no programa e que nenhum professor, colégio ou cursinho é mediúnico e adivinhou as questões – está lá no programa.

Boa prova e sucesso a todos. Se a nota máxima a uma boa ação é dez, então que o novo ano que se inicia queira dizer alguma coisa de bom a todos os vestibulandos.


Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

MERENDINHA...!


Lembro, e não preciso forçar a memória, pois minha lembrança é de uma época bem recente, de uma brincadeira chamada “merendinha”; e ainda hoje vejo as crianças brincarem. É assim: deve-se pedir “licença” antes de comprar um lanche, para que o colega não peça e ganhe parte da guloseima, ou o que quer que seja, desde que comestível, dizendo, justamente: “merendinha!”

Mas não é sobre esta brincadeira que trata minha balbúrdia (aliás, é coisa muito séria, isso sim!) e sim da atitude, aliás, da falta dela, o que mais pareceu uma “ ‘brincadeira’ de mau gosto” – e que mau gosto – na ocasião em que a equipe de técnicos da Secretaria de Estado de Cultura, foi assaltada em pleno exercício de suas funções.

Explicarei...

Mas antes não posso deixar de expor que o Brasil é mesmo uma piada: nos momentos mais oportunos de mostrar sua eficácia perde a chance por questões simples, para não dizê-las “bestas”.

A segurança, no mínimo, é uma responsabilidade que o Brasil deve assumir com respeito a quem acredita que só ele é capaz de assumir.

Enfim, o Brasil é triste por deixar que suas ações sejam tomadas por fragmentos de interesses extremamente pessoais; pois abre mão de sua importância só porque uma “licença”, autorização ou pedido não foi emitida, enviada, solicitada ou “acordada” entre as partes interessadas... Quantas vias burocráticas são necessárias para que o Brasil permita o mínimo de condições, numa zona em que ele mesmo considera “de risco”, para que as famílias e profissionais possam exercer os princípios mais básicos da cidadania?

... Como me havia comprometido, explico: Bem longe das políticas tradicionais baseadas na centralização e concentração dos recursos e das ações, o Governo Popular (que pode até não estar dando conta de todas as demandas, mas aí é outra questão, de tempo até, por que não?) tem distribuído suas ações em regiões municípios e bairros que nunca estiveram sequer na periferia do campo visual dos gestores – que convenhamos sempre demonstraram claramente que também nunca entenderem suas funções – em se tratando do segmento cultural isso vem acontecendo com o Circuito Cultural Paraense que atendeu no ano passado cinco regiões de integração, nos municípios de Abaetetuba, na região do Baixo Tocantins; Conceição do Araguaia, na região do Araguaia; Bragança, na região do Caeté; Óbidos, na região do Baixo Amazonas, e São Sebastião da Boa Vista, na região do Marajó; e já este ano atendeu Ipixuna do Pará e demais municípios da região do Rio Capim.

O mesmo com o Salão do Livro, ação preparatória para a Feira Pan Amazônica do Livro, que ocorre na capital e que agora se estende a algumas regiões de potencial para a implementação de políticas consolidadas na área do livro e da leitura; já tendo ido para Santarém e Tucuruí, em parceria com uma estatal... Assim como o circuito só acontece em função das parcerias com os municípios, seja com a sociedade civil como o poder público municipal. Enfim, são as parcerias que importam até aqui.

Se assim não fosse, desprezaríamos os parceiros, ao pensarmos em levar para o bairro da Cremação mais uma ação conjunta dos órgãos de cultura do Governo do Estado e outros também da estrutura estadual de interesses afins, e teríamos dispensado qualquer auxílio oferecido ou qualquer mérito que fosse aos “parceiros” – mesmo aos que se confirmaram parceiros nos oferecendo mais problemas que os que tínhamos; aí peço “licença”...

Existem situações em que o Brasil não pode se mostrar assim tão imaturo, em negar o mínimo do conforto e da tranquilidade, mesmo em detrimento dos que, nessas ocasiões, não se divertem, pois estão no exercício de suas funções: servindo e cuidando da satisfação em família.

É por isso que o povo se mostra individualista, descrente, e teme a própria segurança oferecida – opa, polícia e bandido, quem é quem afinal? – pois se o Brasil que é o Brasil age assim...

Retomando...

Não foi pela falta do “apoio degustativo” que houve o que houve; e nem sabemos ao certo o real motivo, mas muito tem a ver com a falta de diálogo aberto e sincero entre as partes, ah... Isso sim é inegável. Ainda mais quando, em reunião de planejamento, os técnicos assaltados expuseram a realidade da Secretaria, o que não lhes permitiu que em momento algum se isentassem da responsabilidade de articular a “merendinha” para os parceiros... Desde que eles também se dispusessem a contribuir; mas se não entenderam a mensagem, como agiriam? Foi justamente o que fizeram: NADA! Sequer saíram do lugar, não se sabe qual, mas não saíram... E mais, foi o Brasil quem fez ponderações que implicariam na programação – ao entendimento de todos: em prol da segurança! Aí nos comprovamos “péssimos” interpretadores de textos.

Um último esclarecimento: Eu jamais falaria mal de meu país; e Brasil é o “nome de guerra” do oficial que em nome da Polícia Militar do Estado do Pará, nos deixou a mercê do que ele sabia que só seria inevitável se estivesse lá... E o que fez? Vocês já sabem...



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa, Arte-Educador e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br
30/06/09 – 10h / 16h27

MEA CULPA, TAMBÉM!


Eu estava “tentando” assistir a um filme [pirata, diga-se de passagem; e é informação importante para este contexto] quando ESTA bendita idéia começou a me importunar a atenção para transformá-la em texto... Este, por sinal!

A idéia dava voltas em meu cérebro, labirinto genioso, como uma suave rajada de vento brando procurando escape. E me fazia pensar ou lembrar dos proprietários das recém fechadas lojas que além de entretenimento também proporcionavam [infeliz emprego do verbo pretérito] uma gama de conhecimentos por meio da informalidade; é de livros e filmes que estou falando. Calma, tudo será esclarecido a seguir.

Soube, através da “boca miúda”, do declínio de uma das mais atuantes e dinâmicas livrarias da cidade: a Jinkings. E o meu lamento se ampliou na lembrança das vezes em que lá estive para desenvolver atividades de incentivo à leitura – percebam bem o meu dito: “atividades de incentivo à leitura”; isso porque existia na concepção do empreendimento [e estou especulando sobre tal concepção, pois não possuo laços afetivos e nem conheço ninguém por lá] um tanto de interesse, não só na formação de novos consumidores de produtos comerciais como de “conteúdos”.

Minha lembrança é de quando lá estive contando histórias, dinamizando a leitura, e potencializando um espaço de ser feliz. E como foi empolgante e enriquecedor para minhas práticas, para meu currículo. Tanto que, com muito orgulho, consta tal informação nesse meu documento de apresentação profissional: “Contei histórias na Livrariazinha da Jinkings”. E falarei só dessa dinâmica da fantasia, pois muitos sabem e outros devem ou deveriam saber [se bem que agora fechada ficará tudo mais difícil] da imensa contribuição histórica, social, cultural e política de seu idealizador e proprietário, o sr. Raimundo Jinkings. E, claro, o empenho de toda a família, a considerar seus valorosos funcionários e fiéis clientes, por que não? Pois a cena por mim presenciada aos sábados pela manhã, me remetia aos finais de semana na casa da vovó, eximia contadora de causos, fábulas, contos e parábolas: eram [maldito pretérito, outra vez] os pais que ainda chegavam e os filhos que se antecipavam em gritos e gestos de felicidade plena – pareciam esperar somente por aquele momento. Seriam as “xerox”, donw load, i-book, parte ou “os” motivos?

Por outro lado, tão obscuro quanto, um amigo fez o convite: “Vamos à BloockBuston, ela vai fechar e estão vendendo os filmes...”, é claro que fui! Mas sob as marteladas da culpa que também chegam a mim. Não entramos em detalhes sobre o motivo da falência, mas li no jornal, daí a importância do estabelecimento, não se tratava [até quando terei que suportar este pretérito?] apenas de mais uma locadora que fecharia suas portas por motivos bem óbvios, coisa que se descobre o motivo em qualquer esquina, a valor irrisório, mas significativo para o caos de locadoras de vídeos; algo promocional em feiras livres que, em lote, se paga R$ 2,00 a unidade e, na camaradagem, até três por R$ 5,00 – entenderam o quanto a culpa me fez parar para materializar esta idéia [catáfora – anunciar para depois esclarecer – no primeiro parágrafo].

Em Icoaraci, onde vivo [e que brevemente me verá falar de si] já havia acontecido muito isso. As locadoras Power Vídeo e LucK Vídeo, que mantinham um acervo especial do circuito Cult, também se viram obrigadas a cerrar suas portas – assim como outras tantas até com anúncios em classificados de venda de acervos, equipamentos e até prédios; ainda mais quando os “camelôs” passaram a vender “piratas por encomenda”. Daí vieram alguns computadores munidos de gravadora de DVD; na seqüência, TODOS os computadores já vêm com essa ferramenta de violação de direitos [opa, desse mal não me culpo; tenho gravadora, mas não sei usá-la]; na rede mundial de computadores, ao livre interesse de quem queira, baixam-se filmes sem que os mesmos sequer sejam mencionados no circuito comercial por aqui [Brasil] – ou ainda com intenção mercadológica denominada marketing, não foi assim com Tropa de Elite: “vazou na net”.

Em fim, lamento pela falência da Ponto & Vírgula, que também proporcionou ações afins às da Jinkings [se a intenção foi disputa de mercado, pouco me importa, as dinâmicas eram mais interessantes, alegres e felizes]. E quanto aos filmes, torço pelo não trágico destino à Fox, que sabiamente parece migrar para outros negócios, é mais loja de conveniências que outra coisa; tal qual a Computer Store, que perdeu os compradores de “programas” também para a pirataria, e hoje oferece restaurante, lanchonete, salas para conferências, shows e outros diversos fins. Ressalto ainda, por conta de minha “infeliz e catastrófica” contribuição, as salas de projeções que se fecharam; afinal, pelo valor de um ingresso dá, quase, para montar um acervo. E não lamento só pelos produtos, ou pelos proprietários, mas, fundamentalmente, sobre as últimas perdas [cinemas], os prédios e suas histórias na formação do cenário da cidade – não me conformo em não mais ver os letreiros a anunciarem o que está em cartaz no Nazaré, no Olímpia, no Palácio, no Cinema I, III e III...

Sei que algumas “novas idéias”, diga-me o espevitado Luiz Alho, tendem até a minimizar esses pesares, ainda assim, não poderia deixar de me manifestar na forma que aqui está – espero que minha mente esteja satisfeita, com o texto, é claro! – pois o incomodo, agora, dá vez à dúvida: volto a assistir ao filme ou não?



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

INDIGNAS CONSIDERAÇÕES

No ano passado, mais precisamente no mês de outubro, presenciei (a falta de) ações que jamais imaginei rever coisa similar, principalmente em termos de “descaso” com a importância alheia – importância que engrandece, inclusive, o Estado e pessoas, em particular, e que não passam, de fato, de “mero interesse circunstancial”; como tive de ver novamente em 2009.

Explico.

1ª parte:
Em 10 de outubro de 1908, nasceu em Icoaraci, na época, Vila Pinheiro, o hoje considerado “príncipe dos poetas”, Antônio de Nazareth Frazão Tavernard – ou somente, mas não menos criativo ou importante, Antônio Tavernard – o “Toni” da intimidade na família Tavernard.

Para 2008, eu que sou pouco conhecedor da obra, e suficientemente apaixonado por este pouco, esperei uma maior consideração dos órgãos competentes (públicos ou civis) para demonstrar o mínimo da consideração para com quem, já em sua época, colocava as particularidades e peculiaridades do Pará em evidência para todo o país – não somente como o coitado poeta do “rancho fundo”, mas para a considerável relevância de suas obras, nas diversas modalidades da arte da palavra escrita – já que Tavernard foi também contista, teatrólogo, crítico literário e ensaísta. Afinal, era o ano do Centenário.

O descaso começa pela administração do, hoje, distrito de Icoaraci, que sequer pensa em mover ações que visem à revitalização da histórica casa em que morou o referido poeta – situada à Rua Siqueira Mendes (1ª rua à beira-mar). O que há de consideração pública para com o escritor é: um trapiche na Ilha de Cotijuba [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma viela sob o prédio em que está o CENTUR [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] e as ruínas do que um dia foi a “casa do poeta” [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] – de uma coisa as pessoas têm certeza: foi alguém que teve alguma importância, pois só assim se vira nome de rua, prédio ou qualquer outro logradouro público.

2ª parte:
Em 10 de janeiro de 1909, nasceu em Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, na época, Vila de Ponta de Pedras, o hoje considerado “romancista da Amazônia”, Dalcídio Jurandir Ramos Pereira – ou somente, mas não menos criativo ou importante, Dalcídio Jurandir – Dal, na intimidade de sua família – que cresceu em Cachoeira do Arari, também no Marajó. E que depois, por conta da imensa vontade de estudar, galgou rumo à história de sucesso – Belém / Rio de Janeiro – onde faleceu em 1979.

Para 2009, eu que sou “menos” conhecedor “ainda” da obra, mas suficientemente apaixonado pelo mínimo que sei sobre O QUE VIVE, SENTE E SONHA O HOMEM MARAJOARA (nas palavras do próprio Dalcídio), esperei uma maior consideração dos órgãos competentes (públicos ou civis) para demonstrar o mínimo da consideração para com quem, já em sua época, colocava as particularidades e peculiaridades do Pará em evidência para todo país – não somente como o simples escritor dos “campos do Marajó”, mas para a considerável relevância de suas obras, nas diversas modalidades da arte da palavra escrita – já que Dalcídio foi também poeta, jornalista, crítico, ensaísta. Afinal, é o ano do Centenário.

O descaso começa pelas administrações dos referidos municípios, que pouco – quase nada – fizeram para que marcos físicos nas cidades possam se manter como referências da história de tão ilustre filho – potencializando a idéia do “turismo literário” – afinal, quem não gostaria de conhecer todos os rios e comunidades que Dalcídio descreve em seus romances. O que há de consideração pública para com o escritor é: uma rua em Cachoeira [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma praça municipal em Belém sem dinâmica alguma [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma escola que, contra a vontade das autoridades locais, em Ponta de Pedras se chama Dalcídio Jurandir [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], e agora, por conta de uma programação compensatória por parte de um grupo de estudiosos [acadêmicos em menor escala, segundo a proposta de popularizar as obras de Dalcídio, no sentido de torná-lo mais acessível aos níveis do ensino médio e fundamental, por que não?] uma placa foi instalada como indicação de uma obra que ainda se concluirá num espaço cultural que sediará o campus da UEPA em Ponta de Pedras [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] – de uma coisa as pessoas têm certeza: foi alguém que teve alguma importância, pois só assim se vira nome de rua, prédio ou qualquer outro logradouro público.

Perceberam como nomes [aliás, não apenas nomes, mas homens] ilustres têm até mesmo a história do “descaso” moderno em comum.

Estão de parabéns os cidadãos simples, desvinculados de interesses administrativos ou de gestão pública [ainda que apoiados por estes] que reconhecem que em seu tempo atual, mesmo em condições desfavoráveis, podem se remeter à relevância de todos aqueles que ajudaram na construção da história do Pará – cada qual ao seu modo, ao seu estilo.

Sei que é um pouco tarde, mas nunca demais, a considerar seu centenário de nascimento em 2008: VIVA ANTÔNIO TAVERNARD!

E por me instigar a tirar da gaveta meus escritos que denunciam o descaso com a boa escrita, nada provinciana, por sinal, de nossos maiores pensadores e “operários da palavra” – segundo Carlos Correia Santos: VIVA DALCÍDIO JURANDIR.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

FELIZ ANO NOVO, DE NOVO!

Eu bem que poderia aproveitar a oportunidade, aliás, mais uma oportunidade neste espaço e desejar a todos os leitores e editores o Feliz Natal que não pude enviar antes, ou ainda, os votos sinceros de um Ano Novo cheio de realizações e prosperidades, mas...

Deixem meu pessimismo de lado e considerem o óbvio: aquilo que os olhos veem e o coração sente da pior forma possível. Já escrevi para esta seção por ocasião da violência, mas para o descaso não há jeito.

Por que as autoridades (dá até vergonha dizer isso: “autoridade”, mas fazer o quê, se os tais gostam de assim se intitular – porque não somos nós que os escolhemos, se bem que os que escolhemos também não se diferem muito... em nada!) fazem vista grossa ao que está, literalmente, debaixo de seus narizes? Será que é porque as vítimas, na maioria, são pessoas comuns? E ainda aparecerá alguém querendo “direito de resposta” para dizer que policiais também são gente comum... Além do que muitos, como eu mesmo, temeriam em usar do espaço público para dizer o que disse... E dizer o que eu digo é, comprovadamente, por questões muito (mas muito) pessoais, “chover no molhado”.

Se é inevitável, ao ligarmos a TV ou lermos o jornal, nos depararmos com manchetes trágicas, já que a tragédia é a bola da vez; queria muito entender o que está acontecendo que nem o anunciado se pode evitar? Lembro que ouvi certa vez, na faculdade, que para muitas doenças as curas já existem; mas o que aconteceria, se fossem reveladas, com a indústria de remédios? Penso que é o que está acontecendo com a violência, mais especificamente com o crime, daí me vem à memória o deputado/apresentador que forjava os crimes para exibir em seu programa as “cenas bárbaras” – como ele mesmo as apresentava.

A coisa está banalizada mesmo: um policial, não direi inocente, mas que na ocasião realizava seu trabalho, dignamente, foi morto; por conta disso, e “só por conta disso” – vários casos foram, são e serão assim – vários bandidos foram mortos até chegar nos comparsas do infeliz algoz de mais um pai de família (é assim que prefiro lembrá-lo); este que, coincidentemente, era um policial, porque os que não têm essa (falsa) sorte, morrem simplesmente; e com a mesma simplicidade que morrem, são esquecidos principalmente por quem pensávamos ser só cega, mas que também dá vez a surdez.

A violência anunciada e a morte premeditada estão aí nas ruas, estampadas em faixas que divulgam o enredo da tragédia, com tudo muito bem definido: personagens, local, dia e hora – pois não faz uma semana sequer que uma jovem de dezesseis anos foi morta numa “casa de shows” (cuja vida é coadjuvante e que já está com a programação de fim ano garantida) na Avenida Augusto Montenegro. A vida é desvalorizada e ceifada em promoções (que vão do preço das cervejas em balde ao horário de entrada gratuita para mulheres e “universitários”) que desconfio ser a própria Morte a promoter. Tudo perfeito para que no dia seguinte, como em frases estampadas em papelões nos estádios de futebol, após uma partida de final de campeonato, alguém exclame: “Eu sabia!”

Lembrei-me do personagem “seca pimenteira” do Zorra Total, pois é final de ano, todo mundo aguardando palavras de conforto e prosperidade e eu aqui expondo a tragédia da “vida como ela é”; mas não é agouro de minha parte, é só a minha “retro 2009” a mais recente; a da vida real.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

CARIMBÓ EM TODO CANTO

Aos quatro cantos do mundo venho dar ciência do quanto importante é o Carimbó para o povo marapaniense – e como eles mesmos dizem: a todos que adotaram Marapanim e o carimbó como ritmo de vida.

Nos dias 4, 5 e 6 nossa querida “Mapara” – para os íntimos – realizou mais uma edição do Zimbarimbó (Zimba é festa, no melhor estilo linguístico daquele lugar; e o sufixo é o óbvio demais, certo?). Fabuloso encontro de um único ritmo: o Carimbó – de Mestre Lucindo, Pedro Roberto e Bento, o homenageado nesta segunda edição; assim como foi o ritmo que cadenciou e ainda faz balançar a vida de vários mestres que ao longo de outros tantos “zimbas” nunca deixarão de ser lembrados – sem que para isso precisem morrer: “Deus nos livre!”

Quanto ao encontro de um único ritmo, trata da integração de tocadores de carimbó, na ocasião de festejos, como o “Zimba”, em que os de casa recebem outros carimbozeiros de municípios vizinhos, no caso, com maior frequência, os vindos de Curuçá.

O Zimbarimbó está, mesmo como caçula que é, vale ressaltar que já mencionei ser a segunda edição apenas, se consolidando como um dos eventos de maior relevância na forma de ordem da sociedade civil organizada; pois vem sendo fruto de uma série de conversas, articulações, parcerias, entraves, acertos, confusões, retaliações, adequações, rachas e readequações. É isso mesmo. Não dá pra acreditar que um evento com sua magnitude e esplendor, seja ele qual for, seja só flores. Até porque são algumas dessas divergências naturais, digo, culturais, as motivadoras das ações; principalmente aquelas que são respostas a quem duvida de nosso potencial – o que passa bem longe do que acredito ser o ideal: não precisamos provar nada a ninguém para nos sentirmos bem.

Foram três dias de muita festa ao povo de lá e aos que por lá passavam, que acabaram ficando. Marudá? Crispim? Que nada! Naquela ocasião perderam a prioridade para o ritmo que o mundo conhece e que é a cara do Pará.

Mas de que vale o orgulho do Estado e das demais esferas administrativas do poder público quando in loco pouco ou nada se faz para garantir a manutenção daquele ritmo cadenciado que demonstra de forma tão pulsante a mistura das raças – corpo curvado, pés descalços e instrumentos rústicos feitos de insumos naturais, da herança indígena; o gingado e requebrado dos corpos a se insinuarem, e a cadência rítmica dos curimbós a lembrar os atabaques africanos; e as posturas nos giros com braços ao alto, resquício da colonização europeia na formação cultural do Brasil. Se bem que na “hora do bem bom” lá no Bom Intento ninguém sequer ligou ou liga pra isso. Bom mesmo é ver a contradição entre a poeira que sobe e o suor que desce.

Carimbó em todo canto. Foi assim que viveu a “Borboletinha do Mar”. Que maravilha foi chegar àquela cidade e ser recepcionado por grupos que tocavam, cantavam e encantavam, desde a guarita (pórtico de entrada da cidade) até as esquinas, barracões, quintais; e, para não perder o costume, logo após o almoço, embalar-se na rede armada na varanda ao som de adivinhem o quê? Vi muito isso por lá – e é sempre, mas pouco visível.

Lembro-me que numa de minhas idas à “Terra do Carimbó”, na ocasião em que eu e meu camarada Professor Favacho (o Ivanilson, pois Favacho em Marapanim é como carimbó, em todo canto tem), juntamente com os grupos e associações que pensaram o Zimbarimbó, propus o projeto “Carimbó em Todo Canto” sob três conotações bem distintas e ricas na plurissignificação. 1ª – Carimbó em todo canto (= esquina) da cidade, numa manifestação de “ensaio aberto” a permitir que as famílias possam ter acesso sempre, não só nas rádios, mas ali bem pertinho, no bairro e ao vivo; 2ª – Carimbó em todo canto (= do verbo: cantar) como gênero musical a ser aprendido e entoado por todos de modo a garantir a perpetuação do ritmo; e 3ª – Carimbó em todo canto (= qualquer lugar) para quem quiser “conhecer, amar e defender”, de modo a consolidar um “selo” que leve (no bom sentido, na lembrança) não só a cultura marapaniense, mas a essência do povo gentil, alegre e hospitaleiro que se esbalda nas letras simples do muito que as canções contam.

Daí, minha felicidade não mais se conteve, pois o mérito do carimbó é tão presente na vida desse povo do Pará que pude saber do: Zimbarimbó (festa de carimbó), Boarimbó (no dia 20/12 na vila de Boa Esperança, em Marapanim), Fest-rimbó (em Santarém Novo, com a Irmandade de São Benedito, nos dias 19 e 20, quem duvida que estarei lá?), o Folclorimbó (realizado no mês passado, em Curuçá), Festival de Carimbó de Marapanim: o canto mágico da Amazônia (nos dias 13, 14 e 15, realizado pela Amatur), Carnarimbó (ao estilo dos que integram os festejos de Momo à cultura local), Carimbolada (hoje, 08/12, no Barracão do Conjunto de Carimbó Flor do Mangue, no qual o anfitrião será o Mestre Branco, a partir das 09h até o sol raiar, realizado por seis grupos que agora integram a Liga Independente de Carimbó de Marapanim, mais um movimento organizado a contribuir com a propagação do ritmo-vida da gente), com as presenças do amigo artesão Caíto e de seu rebento kauê, 2 anos, que é ninguém menos que o pequeno multi-instrumentista e dançarino “príncipe do carimbó”.

É assim mesmo: “é carimbó pra cá / é carimbó pra lá”; e não por isso apenas, aliás, por tudo isso, é que devemos nos fazer ecoar no registro do Carimbó como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Diga sim, eu quero!

Por fim, um de meus lamentos, e sei que os bons filhos de Marapanim irão compreender, se deu pelo fato de ao exaltarmos o carimbó, no que seria o seu “berço” não dá para não lembrar a recente perda do Mestre Verequete, que nada tem a ver com o fato de que outros nomes que não somente o de Lucindo seja lembrado e aclamado como Rei do Carimbó, como também o é o Pinduca. O mérito deve ser reconhecido, pode não ser aceito, o que é do direito de qualquer um que assim pense, mas suas relevâncias centraram-se na capital de modo que daqui escoa toda e qualquer produção para o restante do país e do mundo. E o Mestre Verequete, a efeito de informação, nunca cantou uma música sequer que não fosse de sua autoria; diferente de outros, que, justamente, por conta disso provocaram uma ciumeira besta sobre aquele que na sua simplicidade, tal qual os Mestres: Pedro Roberto, Cantídio, Bento, Lucindo, Nego Uróia (Curuçá), Amuré, Josimar, Manelão (Santarém Novo), Otoniel e Pelé – que aliás lamentei muito não o ver com sua irreverência nos palcos do Zimba, não como ele gostaria, junto ao seu Flor da Cidade.

Em fim, justiça seja feita, uma salva de curimbós ao Mestre Verequete e a todos os mestres carimbozeiros do Pará. E vida longa aos “zimbas”.


Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

A PROVA COMO UM TODO

Não é de minha intenção advogar em nome da universidade pública estadual, mas gostaria de usar deste espaço democrático para expor umas ideias a respeito da prova de Redação nos vestibulares; e o que me motivou a tanto foi o texto da senhora Mônica Simão Coral, publicado nesta mesma seção, no dia 26 de janeiro, sob o título: Redação como avaliação; o qual, inclusive, desde a publicação, venho utilizando em diversas aulas preparatórias para a tal prova de vestibular, dessa vez, para o ingresso à universidade federal, no sentido de esclarecer situações e até, na medida do possível, desmistificar esse mito (o de que é a Redação que de fato elimina) ratificado por esta mãe preocupada, não com o próprio filho, já que o mesmo foi aprovado em dois vestibulares, mas com os colegas de seu prodígio.

Longe de mim, também, utilizar de meus atributos com o domínio sobre alguns dos recursos linguísticos em função de minha condição de professor de língua portuguesa e redação para julgar o que pensa a dona Mônica. Muito pelo contrário. Para início de conversa, gostaria até de parabenizá-la, afinal não são muitos os que, a não ser para fazer acusações diretas aos governos, tem a coragem de fazer uso da palavra escrita para questionar, sugerir, solicitar esclarecimentos, revelar dúvidas ou colaborar para que a vida, em qualquer momento e circunstância, possa ser bem melhor... E no caso, dos processos seletivos, muitos veem, justamente aí, uma fonte possível de garantir o tal bem-estar – muito baseado no “status”.

Esclareça-se aqui que o fato de uma pessoa ter bom desempenho na escrita de textos durante sua preparação para o vestibular ou durante a vida escolar, nos ensinos fundamental e médio, não determinará na hora do “vamos ver” que seu rendimento será igual; pois não é só dos fatores de possuir boas ideias e dominar os recursos linguísticos que depende o êxito do candidato, mas de uma objetiva “noção do todo”. Ou seja, a prova é realizada em partes e etapas: as partes correspondem às disciplinas; e as etapas, aos três anos do nível médio de ensino. Logo, devem ser assim assimilados e compreendidos para que se obtenha como produto final o bom rendimento: a aprovação. Se assim não for, muitos continuarão acreditando na ideia de que uma ou outra disciplina é a exclusiva culpada pelos fracassos – e sempre sobra para a Redação.

É o próprio diretor do Centro de Processos Seletivos da UFPA (CEPS), Luiz Acácio Centeno, no site da Universidade Federal do Pará, quem mostra o “caminho das pedras” sobre o processo como um todo ao afirmar que: “Muitas pessoas não atentam para o fato de que, desde que esse modelo foi adotado pela UFPA, existem critérios de eliminação”. Perceba-se que “existem critérios” e não uma singularização recaída sobre a produção de texto. Para ser mais preciso em minhas ponderações, consultei os Editais da UFPA e UEPA, que, aliás, estão lá publicamente disponíveis a quem interessar possa, para não dar nenhum “fora” e constatei 9 (nove) itens responsáveis pela eliminação de um candidato na instituição federal; e 7 (sete) na estadual. Ah, aproveito também para informar a dona Mônica, e às tantas mães e candidatos que se interessam “mesmo” pela avaliação da prova, ou mais especificamente da redação, que o item 11.4 do Edital da UEPA trata justamente dos critérios de correção da prova de redação; e o 8.7, em 10 (dez) subitens, trata com exclusividade, da prova que está por vir.

Outra questão relevante para o entendimento de como funciona o processo avaliativo de eliminação ou aprovação, a considerar a escrita de um texto, é a demanda dos cursos, ora. O fato do filho de dona Mônica ter obtido 6.3 na prova da UEPA e seus colegas terem tirado até mais e não serem aprovados, leva em consideração os cursos por eles pretendidos; injusto, sim, seria se todos eles estivessem pleiteando as mesmas vagas. Num dos cursos preparatórios para o qual presto meus serviços uma aluna que fez 14 pontos na redação foi aprovada em detrimento de outra que obteve 20 pontos e ficou fora. O motivo? A concorrência para os cursos por elas pretendidos. Tenho dito assim aos meus orientandos: uma redação de nota 8,0 pode não ser suficiente para um curso dos mais concorridos como fisioterapia, mas para meteorologia pode dar um primeiro lugar – claro que essa nota somada aos pontos obtidos na parte objetiva da prova; se não é culpa da redação sozinha eliminar alguém, por que haveria de esta também receber o mérito individual da aprovação, sejamos justos, pelo menos aqui.

Ainda sobre o exposto por dona Mônica em seu texto, concordo plenamente com o domínio que um acadêmico deve ter sobre o próprio idioma, mas não tão radical quanto à senhora, ao ponto de afirmar que só por isso não deva cursar uma universidade. Mas se é triste ouvir os inconvenientes da boca de quem não sabe, imagine ouvir daqueles que supomos, deveriam saber algo a mais? Já em relação à importância dada às outras disciplinas, dois elementos, na elaboração da própria redação, que são as relações entre textos (intertextualidade) e entre disciplinas (interdisciplinaridade). Agora é claro que para um candidato fazer uso de tais estratégias é preciso que seus orientadores (nos cursinhos ou nas escolas convencionais) façam uso dos exercícios que evidenciem essas vantagens e demonstrem por meio desses recursos que estudar é um todo e nada é desperdiçado.

Por fim, aos diversos vestibulandos que esperam por uma prova bem tranquila, e sem critérios obscuros para a avaliação, saibam que alguns dos elementos que diferenciam seus produtores e produtos é o quantitativo e a qualidade dos conteúdos aplicados na elaboração do texto. É isso mesmo! Pois se: a prova é a mesma a todos, os tipos de textos propostos (optativos ou obrigatórios) também, o tema idem, as informações dadas pelos professores a mesma coisa; então, o diferencial, muito obviamente, vai ser pelo que cada candidato sabe ou não sobre o tema, pela qualidade de seus argumentos e articulação com as palavras – o que pensa e como manifesta esse pensar em palavras escritas.

Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br