segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O ANALFABETO POLÍTICO

Esclareço de antemão que o título não se refere ao candidato Tiririca, não ainda, muito menos que se trata de uma ideia original, pois é, na verdade, o título de um dos sábios escritos de Bertod Brecht, dramaturgo alemão, referência essa inclusive que já usei em outro artigo aqui mesmo publicado. E minha intenção aqui é provocar aqueles que pensam saber o que fazem e que se utilizam de um tipo de ignorância como arma eficaz para manifestar suas indignações e insatisfações.

Nossa época nos vem revelando o cúmulo da ignorância – algo do tipo: evoluímos em equipamentos e tecnologias para nos convencermos, cada vez mais, que a mesma mente criadora é preguiçosa e tem medo de assumir as responsabilidades sobre as consequências dos atos impensados. Julgamos-nos, e subjugamos os que pensam de forma contrária, representantes de uma geração que “sabe de tudo” e, principalmente, “sabe o que quer”. Daí concluo que não sabe, mas pensa saber; e minha memória resgata um pensamento para justificar essa prepotência ignóbil: “Há verdadeiramente duas certezas na vida: saber e crer que se sabe – na primeira, vivem a ciência e o conhecimento; em crer que se sabe, reside a ignorância.”

Amparados por uma “falsa-lógica” alguns muitos brasileiros irão contribuir para (mais) uma das grandes burradas da humanidade (brasileira); para, segundo os próprios, justificar seus votos em branco, nulos e “em qualquer um”. Se assim não fosse, o provável mais votado deputado federal do Brasil do pleito eleitoral que se encerra no próximo domingo, não estaria causando o maior alvoroço. Isso porque para os pensadores políticos é inadmissível que uma “chacota” desse nível revele a falência das instituições – falo do Tiririca a exemplo de outros tantos aventureiros que disputam o mesmo pleito que o “abestado” – forma como o candidato se apresenta.

O político se torna um homem público, mas o homem público do meio artístico deveria se isentar dessa transição ridícula de querer se tornar notório por aquilo que desconhece. Penso tratar-se de uma clara demonstração de oportunismo da imagem e de sua (agora sob suspeita) oferta de minimizar dores e sofrimentos por meio de seus “fazeres artísticos” – para depois, como Brutus, nos apunhalar pelas costas.

“Vou votar nele por que sei que não vai ganhar...” é a frase que melhor evidencia o descrédito sobre os que acreditam estar recebendo votos de confiança. É a vingança do povo, que escolheu os que cantavam (Frank Aguiar e Wladmir Costa) para nos fazer dançar – e como dançamos bem; e que agora vai eleger “conscientemente” um legislador que (no meio dos maus, se tornará um deles no melhor estilo: “Quem com os porcos se mistura, farelo come.”) será parte do “esquema” e ainda daremos gargalhadas de seus atropelos; já que, pelo menos ele diz a verdade, não saber o que faz um deputado.

Cada um foi bom no que fez, ao estilo do gosto público: Frank Aguiar no forró; Clodovil na moda; Robson no futebol; Wlad na mídia; e está aí uma referência do humor nacional, profeticamente, fadada ao esquecimento; deixará de ser um dos melhores no que faz, para se tornar mais um a ser odiado por todos – e olha que: “quando eu odio eu odio...” [seus jargões serão bem aproveitados, alguns de nós o faremos provar do seu próprio remédio].

Viva a democracia brasileira! Os humoristas! Os jogadores de futebol! As mulheres frutas! Os cantores! E tudo quanto vir nessa próxima enxurrada de coisas estranhas. Pelo menos ninguém estranhará as surpresas que nos trarão as modernas “caixas de Pandora”.
Alci Santos
professor de Língua Portuguesa

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