segunda-feira, 3 de maio de 2010

NEM DEBATE ENEM DECISÃO

Com muita sinceridade gostaria de saber dos gênios que comandam as políticas da educação no nível superior no Estado do Pará, por que insistem em brincar com a inteligência de quem tanto quer “ser alguém na vida” e acredita que para isso a educação é a melhor via de acesso.

É de indignar que nós, professores, tenhamos, com muito esforço, conseguido liberação de algumas instituições de ensino, nas quais nos sacrificamos para encaminhar alunos com a melhor das mínimas condições de acompanhar o currículo do 3º grau, e a “galera cabeça” que gerencia as universidades, faculdades e os processos seletivos não nos ofereçam sequer satisfações do que fomos lá fazer – lá, é na UFPA, por ocasião de uma convocatória à sociedade para discutir o formato do vestibular 2011, que até agora não tem norte. Depois não temos por que nos surpreender com as “trapalhadas” ocorridas, como as do ano passado, seja com o Exame Nacional do Ensino Médio – o qual nos querem a qualquer custo empurrar goela abaixo como fórmula perfeita para o ingresso ao curso superior (perfeito para quem, se não há investimento suficientemente necessário para condicionar os secundaristas ao processo seletivo?); seja com o vestibular em si – com o episódio/papelão da Universidade Federal do Pará em sua 1ª fase do processo seletivo.

Mas o certo é que fomos ansiosos a participar de um debate, mas os organizadores, não sabemos se por conveniência ou mero esquecimento, não souberam conduzir a assembléia como se propôs; isto é, foi tudo, menos um debate. Não podíamos nos manifestar para confrontar as proposições ou nos posicionarmos contrários ou mesmo para ratificar boas intenções, calados entramos e mudos saímos. Falávamos ao vento, resmungávamos com nossos companheiros que lá estavam na mesma expectativa, frustrada ao final.

E quando nossos diretores (os mesmos que relutaram para nos liberar sem perceber que íamos em busca de informações importantíssimas para aplicarmos nas próprias instituições que eles coordenam) perguntaram, assim que retornamos: “Quais as novidades?” – mesmo esperando o pior – e não lhes demos retorno algum, nem o pior que eles esperavam, fomos alvo de piadas, chacotas e até hostilidade; porque é assim que, ainda, tratam profissionais da educação por aqui. Taí o que fez conosco a UFPA, para não me deixar mentir: marcou um debate que não houve; e olhem que estávamos todos lá: professores, coordenadores, reitores, técnicos, pesquisadores, pensadores, só não convidaram o tal do “debate” para participar. O procedimento foi o seguinte: começou com o disparate de que representantes das Universidades Federais do Amazonas e do Mato Grosso é que vieram apresentar como deve se dar o processo no Pará, vejam só: nossos “atrapalhados” gestores do ensino superior estão com dificuldades de encaminhar o processo de ingresso nas instituições que administram, estranho isso, não? Mas não sejamos hipócritas, vieram falar do sucesso de suas experiências lá, em seus territórios... Será que somos mesmo tão iguais assim? Com a saúde pessoal os médicos advertem sobre o uso de medicamentos para o tratamento de um mesmo mal a pacientes diferentes, por questões de características bem peculiares, genéticas, alergias e outras possíveis contra-indicações. Seria pessimismo demais de minha parte pensar que isso possa se aplicar também ao não respeito às particularidades de nosso sistema de ensino? É bom termos cuidado – prevenir para não remediar.

Quando quisemos intervir, fomos amordaçados. E nossa única opção era através de intervenções em língua escrita, sendo que nossos interlocutores “escolhiam” por conveniência o que queriam e podiam responder. Resultado: respostas vagas e repetidas – e todos que compunham a mesa fizeram questão de fazer uma fala de ratificação, puro pleonasmo (seis por meia dúzia).

E não foi só isso, foram enfáticos, os “sei lá quem”, que os regionalismos aplicados aos vestibulares com autonomia dos estados, não são tão relevantes para o novo modelo de vestibular (sapo = ENEM). O argumento? Somos um país só! Égua, por que então nos tratam de forma igualitária também? Por que tudo e todos têm de espelhar no sul e sudeste, no máximo vem ao nordeste, mas não passa do Maranhão. Quer dizer que de lá de fora (aqui mesmo no Brasil) pode vir qualquer um, aí temos: UEMA, UNIP, ULBRA, UVA, ESTÁCIO, UNIUB... Mas será que há UNAMA em outro lugar que não aqui? Puxa, quanta igualdade.

Por fim, o Magnífico Reitor fez aquela “capa” típica de figurões do alto-escalão, compôs a mesa de abertura, fez as honras da casa, para os de fora, principalmente, e, se soube, minimamente, do que houve, foi porque algum assessor escreveu sobre o (mal) ocorrido.

Daí, ficamos sabendo, já bem depois, que uma coletiva foi marcada às 15h; a nós, soou como uma forma de acertar algum mal-entendido, justificar alguma falha, aparar alguma aresta... Mas não estávamos mais à disposição; voltamos às salas de aula, porque nossos diretores não acreditaram em nós. E aí ficamos na mesma: o Bruno Brasil voltou pra sua Biologia, o Genisson Rodrigues pra Geografia e eu pra Língua Portuguesa, pois pelo menos sobre isso, pensamos nós, sabemos algo.


Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

Um comentário:

  1. Essa eu vi de perto como foi citado, parabens pelo texto e critica aos nossos algozes coordenadores da educaçao nacional, ou seja, o calo que nao sara desse pais. Agora que aprendemos a digerir essa espinha afiada chamada enem, como os unicos preocupados(professores) com a educaçao desse pais maltratado pelas garras dos corruptos e os que viram o rosto para o " calo" que nos envorgonha no exterior ao percerbermos que com tanta riqueza, o Estado e incapaz de criar uma educaçao de qualidade. E nao adianta numeros fantasiosos ou propagandas com rostinhos de crianças felizes em sala de aula, porque todo esse teatro que so tem a cara da tragedia e real. Somos uma decadencia na educaçao, esse pais nao valoriza e nem paga dugnamente seus professores, somos penaluzados por erros que nao sao nossos e ainda desacreditados pela sociedade via uma midia rabo preso com a politica. Parabens professor e amigo Acir por ser um porta voz de nossa classe dos "sofressores".

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