SABE DE NADA, INOCENTE!
O que mais surpreende n'a espera de um milagre, da parte dos
mais fiéis bicolores do Pará (e é de fé
cristã mesmo que estou falando, ou de outra crença/religião que seja), é
não querer ver o que está posto diante dos seus (deles) olhos, e dos nossos também,
quando qualquer questão jurídica envolve os clubes/times de nosso estado – sem
que isso seja ou pareça Síndrome do Pânico ou perseguição político-esportiva –
mas é a mais pura verdade. Basta lembrarmos que todas as decisões têm tons provincianos
e as evidências falam por si sós.
Ironicamente, talvez por
bom humor ou mera (infeliz) coincidência – creio eu, e assim prefiro – na
terça-feira (29/04), aqui mesmo nesta seção, publicou-se uma opinião sobre uma
ação movida pelo Paysandu, requerendo os pontos e, consequentemente, o título
da estreante e já polêmica Copa Verde, que transcorre noutro tipo de “tapetão”
que não é o gramado de nenhum estádio da região. O texto começou comparando a
situação da possível irregularidade de um jogador do time campeão, com a
emissão de uma Carteira Nacional de Habilitação – CNH; sobre o fato de o
indivíduo esperar sua efetivação como motorista/condutor e que poderia ter o
serviço indeferido, caso fosse pego em ato infracional, sendo portador somente
de uma carteira provisória – aludindo a ideia de que o atleta estaria inscrito,
mas sua condição até a ocasião da partida final não se dava por regular para
com o contrato com o clube Brasília, da capital brasileira – daí o motivo da
suposta ironia, já que foi viral as
chacotas sobre o “atropelamento” do papão por uma “brasília” – não amarela,
inclusive.
Compreendamos, bicolores
e azulinos, que nossas paixões futebolísticas devem deixar de lado quaisquer
diferenças, quando o inimigo comum for o desrespeito e as decisões por
conveniências – estas por sinal, muito obscuras – preconceituosas e
absurdamente impostas sem nenhum escrúpulo e aceitas sem nenhuma resistência.
Poucas e raras foram as vezes que uma decisão jurídica – em todas as instâncias
– tomou o partido de um clube do Norte; se bem que por certas vezes,
convenhamos, também a culpa foi da postura incompetente e até acomodada/ociosa,
por assim dizer, dos setores de causas jurídicas dos Clubes da capital
paraense, que mesmo seculares agem com expressa demonstração de amadorismo e
falsa “ingenuidade”, em pleno século XXI.
Tenho toda convicção de
que discutir e criticar o ocorrido do lado de fora é bem diferente do olhar de
quem se encontra na situação, mas tendo o regulamento da competição em mãos,
sabendo da tabela de jogos e contando com a possibilidade de que se possa
chegar à final e sagrar-se campeão – pois é assim que se tem que pensar: “vai
dar tudo certo!”; se não for, é melhor nem se meter –, o que fazem os advogados
(que nunca estão) de plantão, para verificar as condições legais de cada atleta
do próprio clube e de seus adversários a cada partida? Sei que pode não ser tão
fácil ou simples quanto possa parecer, mas ao analisar as reais condições de
cada atleta, de cada time/clube envolvido nas rodadas da competição, já
viabiliza condições de que haja uma ação a ser movida, impetrada antes mesmo de
o jogo iniciar, de modo que se houver uma derrota, como a que houve, não se
espere para tomar atitudes que evidencie “desespero” e despreparo de quem é pago
para isso – provocando a pior sensação que poderia recair sobre quem não vence:
a de que não sabe perder! – e o que é pior: “perder para si próprio”.
Minha torcida não é para
que essa situação, em particular, tenha êxito, mas que nenhuma mais venha a acontecer
assim tão absurda e estupidamente, a
exemplo do que as passadas nos mostram: que “a culpa é da mentalidade criada
sobre a região...”. Se é verdade, e é, de que o Paysandu ganhou os pontos de
uma partida vencida pela Portuguesa– durante o Brasileirão, novamente por
ocasião de irregularidade de um atleta – o que sempre vem acontecendo e não se
aprende; compreendamos que agora a situação nos é toda desfavorável, vejam: (1)
não se trata de um jogo qualquer durante o torneio, mas da final, que por si só
já é uma ocasião bem distinta das outras tantas partidas; (2) pontos migram, títulos/taças
não – a exemplo do título de campeão brasileiro de 1987, que o Flamengo se apropriou
sem ser o real merecedor, já que se recusou a disputar a final contra o Sport
Clube Recife (numa clara demonstração de desrespeito e preconceito com os
clubes do Nordeste, como hoje se faz com os do Norte), e por isso se vangloria
– arrota bafos – de que é hexacampeão sem o ser – e que ainda envolve a Taça
das Bolinhas*; (3) Brasília será sede de jogos da Copa do Mundo, mas depois do
evento o que se fará no Mané Garrincha, uma vez que o Campeonato Brasiliense já
acabou (com o Brasília campeão, inclusive) e o Distrito Federal não tem nenhuma
tradição futebolística, muito menos o clube campeão da Copa Verde – pois a
torcida paraense é que foi atração nas arquibancadas, na final do torneio; (4)
trata-se de Brasília e não um estado qualquer, sendo que nem estado é; é só a “Capital
do País” – só isto: é onde estão os maiores lobistas e articuladores que agem
contra os interesses populares – a exemplo do que é o futebol: popular e, mais
do que nunca, político.
Assim sendo, o que resta
de fato aos torcedores do Paysandu, acreditem, é cuidar do que lhes resta na “real”
– Parazão e Série C; e a nós torcedores paraenses em geral, continuemos a
defender e amar o futebol, mas não “sobre todas as coisas” – o que acaba por
nos levar de “injustiçados” rivais a “burros” inimigos.
Alci
Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
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