UM TIRO NO PÉ ou QUE É ISSO MANECO?
A respeito da forma, um tanto mal planejada, como a Rede
Globo trata das relações homoafetivas
Não sou
nenhum especialista sobre a causa, e muito menos adepto de uma ou outra opinião
sobre as relações homoafetivas; a não ser conhecedor superficial em função de
tudo aquilo que se publica ou noticia sobre o assunto – ainda que tenha muitos
amigos e conhecidos que compõem esse grupo real em nossa sociedade.
Dentre
minhas funções como educador (professor de Língua Portuguesa e Redação) está a
de provocar e mediar – avaliar só os aspectos da escrita e forma de como se organizam
as ideias, sobre as questões temáticas; nunca o valor de juízo do que pensa
cada aluno em seus debates parciais – discussões atuais, reais e passivas de
divergências de olhares (ponto de vista). Não apenas para saber o que pensam,
mas para que, ao final do debate, cada aluno reflita sobre sua real condição
cidadã em lidar com os seus problemas, e principalmente com aqueles que julga
não ter nada a ver consigo; e que, na verdade, são os que mais interessam –
pois deixamos de lado por não estarem diretamente ligados a nós, e por isso
crescem desordenadamente: a exemplo dessa questão tão “problemática e polêmica”
que é a homofobia e os direitos assegurados aos homossexuais.
No
entanto, creio que quando não sabemos de algo a melhor estratégia para
debatê-la é estudar e conhecer, não na maior das profundidades, mas de modo a
dominar o mínimo suficiente, para justamente ao querer defender uma postura,
não sermos mal interpretados ou até mesmo para que não nos venhamos
contradizer, por meio das palavras, as nossas ações – por mais bem
intencionadas que sejam; mas já diz o ditado que “de boas intenções, o inferno
está cheio” – ainda mais se pensarmos (não de forma pessimista, e sim realista)
que o inferno é aqui!
As
telenovelas hoje se prestam a ter uma funcionalidade social muito mais eficaz
do que só ao entretenimento, pelo menos é o que dizem ao que veio seus autores.
Mas as últimas propostas que envolveram o “ainda” tabu sobre as relações
homoafetivas – Amor à vida e Em família – em minha singela e até leiga opinião,
não passaram de fiascos.
No
primeiro caso, a exemplo de como sempre foram tratados os homossexuais na
teledramaturgia, o personagem Félix fez mais uma vez a parte cômica das cenas,
com ares de malvadeza e aquelas pitadas, não tão salvadoras da situação, de
dramas e sentimentalismos – parte esta que foi sim, plasticamente, bonita e
agradável de se ver – não a cena do beijo – e sem preconceito, mas porque foi
só uma cena pela cena, só para atender ao que realmente quer a mídia
televisiva: audiência; daí ficou o beijo pelo beijo – alias, o selinho pelo
selinho.
Agora,
o casal Marina e Clara, que tinha tudo para ser de uma plasticidade e
eficiência maior ainda, já que o primeiro passo da ousadia já tinha sido dado, mas
ficou na mesma. Muito mais vago e estupidamente discutível, pois coloca em
cheque qualquer possibilidade da população leiga e “ignorante” sobre a causa
querer aderir e ajudar. Pois coloca em evidência uma família que se dissolve,
não pela relação homoafetiva, mas pela falta do sentimento maior que deve
manter todos unidos, o amor. Se já não o há mais, então que cada qual busque
suas felicidades como quer que seja – daí já não interessa mais a ninguém, se
será hétero ou homoafetiva – o que importa é ser feliz ao lado de quem se quer
bem.
Enfim,
a questão não é bem as cenas das novelas, nem as expectativas que se criam
sobre como a TV vai tratar do assunto, ou os beijos gays – ainda mais quando se
questiona as (más) intenções de onde está sendo veiculado o assunto –, mas sim
o fato de precisarmos de mais debates, mais esclarecimentos; desde que
desprovidos de radicalismo, pois há ativistas de causas específicas que acabam
atrapalhando qualquer discussão em prol da causa se deixando levar por emoções,
verdadeiros fundamentalistas que deixam de lado até a racionalidade – o que os
torna até mais preconceituosos do que quem os oprime.
Alci
Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
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