sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

AO MESTRE, MAS COM QUE CARINHO

Por ocasião de que ninguém mais quer ser professor, já que sobraram vagas para um terceiro vestibular antes do ano acabar... (31.07.2011)


Não! Não quero acabar com o ano, prestando, desde já, qualquer homenagem aos professores. A questão é que li, atentamente, muitos artigos da última semana de férias, pensando em algo bem conveniente para depois expressar meu ponto de vista e desejar a todos um bom retorno às aulas. No entanto, não será assim.

Poderia ter falado sobre o escândalo da OAB/PA, daí não termos mais a quem recorrer; sobre a insana tentativa de dividir o estado do Pará, que só interessa a quem não é daqui; sobre a falta de políticas eficazes como medidas educativas de reintegração dos diversos menores envolvidos em crimes, daí nos habituarmos a lidar com uma justiça que tarda e falha; sobre a banalização da violência que se tornou parte notória de nosso cotidiano, daí uma parte da população que ri e acena em segundo plano, enquanto há um “presunto” no primeiro; sobre as declarações da Sandy, deturpadas pela Playboy só para provocar uma maior vendagem da revista; sobre a morte anunciada de Amy Winehouse, com a qual se mantém, tudo em nome do lucro, uma fonte inesgotável de humor-negro; sobre a eliminação prematura da seleção brasileira, também prematura; sobre os alarmantes casos de pirataria nos rios da Amazônia, chegando a preocupar tanto quanto acidentes nas estradas; sobre o balanço das férias nos aspectos dos investimentos (não e mal-feitos) nos balneários do estado; sobre a volta por cima de Cielo no mundial em Xangai; sobre a lentidão no caso do assassinato do casal ruralista em Nova Ipixuna, daí os assassinos fugiram enquanto pessoas, em nome da justiça, decidiam se prendiam ou não...

Em fim, minha indignação estagnou em mais uma oportunidade ofertada pela Universidade Federal do Pará. É a terceira chamada – repescagem da repescagem da repescagem – e ainda tem quem não valorize. O processo seletivo especial está aberto e oferece 179 vagas; com valor reduzido na tarifa de inscrição (R$ 15,00); e ainda com duas opções de escolha de curso – o que querem mais? Mas isso não é o problema, muito pelo contrário: é ótimo, excelente! Só que as vagas são todas na área do Magistério, isso mesmo, são Licenciaturas, entenderam? É a terceira chamada e ninguém quer ser professor! O que será que houve?

Desculpem-me os que não agem assim, mas há professores que hoje atuam sem vocação alguma e pintam a profissão como um “mapa do inferno”. Reclamam sempre (e sempre reclamam). Todavia, muitos usam do status de ser professor (mesmo sem o ser) junto aos bancos, concessionárias, imobiliárias e outros financiadores, tudo graças às suas profissões. Trocam de veículos a cada semestre; e fazem viagens que, com o mísero salário que dizem ganhar, não teriam a mínima condição de fazer, se não fossem os empréstimos – isso tudo é um direito que têm, afinal trabalham para isso, para assegurar qualidade de vida, concordo. Porém, reclamam de quê? Nem nossos filhos querem seguir nossos passos – sem contar que existem os “colegas” que afirmam que seus filhos nunca serão (se Deus quiser! – e ainda batem na madeira) professores.

O que é isso, então? Todos já tiveram, têm e terão (assim espero) professores na vida. Se há empreendedores, administradores, economistas, contabilistas, arquitetos, engenheiros, advogados, juízes, médicos, jornalistas, escritores, artistas, músicos... seja quem for, tem boas e/ou más lembranças de profissionais que abdicaram de bons dias de descanso, da companhia e do carinho da família, para assegurar que o bem-estar e o desenvolvimento social e humano se deem por meio do esclarecimento: saber e conhecer.


Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa

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