sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

Por ocasião do TEMA da 3ª fase da UEPA, na qual será aplicada a Redação - último vestibular do ano de 2011...


(15.12.2011)


Essa foi a expressão que muito alarmou os alunos que chegaram a última etapa do processo seletivo para o ingresso à Universidade Estadual do Pará. Daí uma socialização sobre a temática em prol daqueles que durante o ano estiveram atentos a tudo e a todos.

De princípio vamos pensar que a concepção inicial sobre violência, ação muito frequente, em nossos dias, é a da agressão física – sim essa, mas não a única ou exclusiva, uma vez que constantemente somos violentados por atitudes aparentemente singelas e desprovidas de intenções – pelo menos de intenções diretas – mas não sei até que ponto ingênuas.

Foi o sociólogo e historiador Jaime Pinsky – organizador e articulista do livro As 12 Faces do Preconceito – quem afirmou que qualquer julgamento sobre o que rotulamos como inferior, desqualificado e dispensável, baseado em nosso “senso de qualidade” (senso egoísta, inclusive), apresenta-se como pseudo-democracia; no entanto não passa de um disfarce do preconceito e da discriminação. Tal afirmação, aliás, pautada em sua autoridade no assunto, nos põe a repensar o tradicional “gosto não se discute” – pois é preciso discutir sim; porém, sob o olhar humanístico do respeito e da análise indispensável da tolerância.

Defendemos que nossas leituras são as melhores, que o estilo de música que ouvimos é o perfeito, que nossos estilos são os mais aceitáveis, que nossa fala é a mais correta, e tudo isso numa forma descarada e insegura de que só o que estamos a fazer é assegurando nosso direito de ser como somos. Mas não é bem por aí, pois assegurar uma participação e efetivação cidadã não diz respeito apenas a requerer direitos, é preciso também garantir os direitos alheios, e para isso devemos cumprir deveres – e está aí, uma parte do desencontro de interesses que gera o preconceito e a discriminação: palavras de conceitos distintos, inclusive; diga-se de passagem, falamos da boca pra fora sem conhecer os significados e acabamos por falar “besteiras”, pois preconceito não é apenas a discriminação que se tem com negros, homossexuais ou mulheres – condições estigmatizadas no Brasil.

O Estado e a mídia são dois dos maiores difusores dessa “despintada” forma de preconceito que gera segregação, pessimismo, desconfiança e discriminação na sociedade de nosso tempo. Pois somos violentados a todo instante por padrões que não são os que respeitam nossas condições, todavia muitos se inferiorizam quando tais padrões se tornam inatingíveis – daí a importância da auto-aceitação e do senso de pertencimento.

Os governos e, à frente deles, seus gestores, antepõem seus interesses aos da população: desrespeitam as reais necessidades do povo, empurrando-os cada vez mais para a beira do abismo; pensam absurdas vezes antes de votar qualquer reajuste ao salário de quem sua verdadeiramente pelo progresso do país, enquanto que para os próprios vencimentos não se cansam de inserir zeros em cifras. Agridem-nos quando deixam de oferecer estrutura mínima suficiente para o atendimento em serviços básicos como educação (escolas depredadas, parcos recursos, nenhuma tecnologia) e saúde (hospitais e unidades sucateadas, sem investimentos suficientes, tecnologia obsoleta), dentre outros da urgente necessidade humana.

Por sua vez a mídia impõe os padrões de elitização, da banalização, do consumo desenfreado, do capitalismo desmedido e da singularização de estilos – o que diretamente fere e desrespeita a pluralidade do povo, principalmente em nosso país. Por que temos que gostar por época de um único estilo musical, aquele que seus intérpretes, marionetes nas mãos da indústria cultural, estão no mesmo horário e no mesmo dia em diversas emissoras, a cantar seus “hits” em programas com o mesmo formato.

Daí refletir que: a violência convencional, essa que fere e mata, ataca primeiramente a alma, o instinto, o caráter, pois leva, principalmente, jovens, atiçados pela imposição midiática a querer ter o que o outro tem, nem que seja na força – tomando na marra, na forma de assaltos, furtos, roubos e latrocínios.

Por fim: nenhuma sociedade será plenamente desenvolvida enquanto houver segregação, preconceitos e discriminação; ninguém exercerá cidadania pautada apenas em direitos; e ninguém será feliz pensando que o mundo gira em torno de si. Pois o bem-estar do ser social está na satisfação coletiva.

É assim que se deve pensar o tema em questão, mas é uma mera especulação, uma hipótese, daquelas que a UEPA tem evidenciado nos últimos anos; em que planeja uma prova temática com ideias que se complementam a cada etapa de seu processo seletivo. Desse modo, saiba do que trata a questão, aprofunda-se se for de seu interesse, mas não descarte nenhuma outra possibilidade de assuntos que fizeram e fazem parte da nossa história em 2012. Boa prova.

Alci Santos

Professor de Língua Portuguesa e Redação

Um comentário:

  1. Professor, adorei o que li por aqui.
    Falei com você semana passada, meu blog é : http://www.apenaspromiscuidades.blogspot.com/ Se sinta super convidado a passear por lá, viu? Enfim, só não tenho tido tanto tempo pra atualizar, mas adoro aquele espaço. Desde já obriga, beijos. Kállyth

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