sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MEA CULPA, TAMBÉM!


Eu estava “tentando” assistir a um filme [pirata, diga-se de passagem; e é informação importante para este contexto] quando ESTA bendita idéia começou a me importunar a atenção para transformá-la em texto... Este, por sinal!

A idéia dava voltas em meu cérebro, labirinto genioso, como uma suave rajada de vento brando procurando escape. E me fazia pensar ou lembrar dos proprietários das recém fechadas lojas que além de entretenimento também proporcionavam [infeliz emprego do verbo pretérito] uma gama de conhecimentos por meio da informalidade; é de livros e filmes que estou falando. Calma, tudo será esclarecido a seguir.

Soube, através da “boca miúda”, do declínio de uma das mais atuantes e dinâmicas livrarias da cidade: a Jinkings. E o meu lamento se ampliou na lembrança das vezes em que lá estive para desenvolver atividades de incentivo à leitura – percebam bem o meu dito: “atividades de incentivo à leitura”; isso porque existia na concepção do empreendimento [e estou especulando sobre tal concepção, pois não possuo laços afetivos e nem conheço ninguém por lá] um tanto de interesse, não só na formação de novos consumidores de produtos comerciais como de “conteúdos”.

Minha lembrança é de quando lá estive contando histórias, dinamizando a leitura, e potencializando um espaço de ser feliz. E como foi empolgante e enriquecedor para minhas práticas, para meu currículo. Tanto que, com muito orgulho, consta tal informação nesse meu documento de apresentação profissional: “Contei histórias na Livrariazinha da Jinkings”. E falarei só dessa dinâmica da fantasia, pois muitos sabem e outros devem ou deveriam saber [se bem que agora fechada ficará tudo mais difícil] da imensa contribuição histórica, social, cultural e política de seu idealizador e proprietário, o sr. Raimundo Jinkings. E, claro, o empenho de toda a família, a considerar seus valorosos funcionários e fiéis clientes, por que não? Pois a cena por mim presenciada aos sábados pela manhã, me remetia aos finais de semana na casa da vovó, eximia contadora de causos, fábulas, contos e parábolas: eram [maldito pretérito, outra vez] os pais que ainda chegavam e os filhos que se antecipavam em gritos e gestos de felicidade plena – pareciam esperar somente por aquele momento. Seriam as “xerox”, donw load, i-book, parte ou “os” motivos?

Por outro lado, tão obscuro quanto, um amigo fez o convite: “Vamos à BloockBuston, ela vai fechar e estão vendendo os filmes...”, é claro que fui! Mas sob as marteladas da culpa que também chegam a mim. Não entramos em detalhes sobre o motivo da falência, mas li no jornal, daí a importância do estabelecimento, não se tratava [até quando terei que suportar este pretérito?] apenas de mais uma locadora que fecharia suas portas por motivos bem óbvios, coisa que se descobre o motivo em qualquer esquina, a valor irrisório, mas significativo para o caos de locadoras de vídeos; algo promocional em feiras livres que, em lote, se paga R$ 2,00 a unidade e, na camaradagem, até três por R$ 5,00 – entenderam o quanto a culpa me fez parar para materializar esta idéia [catáfora – anunciar para depois esclarecer – no primeiro parágrafo].

Em Icoaraci, onde vivo [e que brevemente me verá falar de si] já havia acontecido muito isso. As locadoras Power Vídeo e LucK Vídeo, que mantinham um acervo especial do circuito Cult, também se viram obrigadas a cerrar suas portas – assim como outras tantas até com anúncios em classificados de venda de acervos, equipamentos e até prédios; ainda mais quando os “camelôs” passaram a vender “piratas por encomenda”. Daí vieram alguns computadores munidos de gravadora de DVD; na seqüência, TODOS os computadores já vêm com essa ferramenta de violação de direitos [opa, desse mal não me culpo; tenho gravadora, mas não sei usá-la]; na rede mundial de computadores, ao livre interesse de quem queira, baixam-se filmes sem que os mesmos sequer sejam mencionados no circuito comercial por aqui [Brasil] – ou ainda com intenção mercadológica denominada marketing, não foi assim com Tropa de Elite: “vazou na net”.

Em fim, lamento pela falência da Ponto & Vírgula, que também proporcionou ações afins às da Jinkings [se a intenção foi disputa de mercado, pouco me importa, as dinâmicas eram mais interessantes, alegres e felizes]. E quanto aos filmes, torço pelo não trágico destino à Fox, que sabiamente parece migrar para outros negócios, é mais loja de conveniências que outra coisa; tal qual a Computer Store, que perdeu os compradores de “programas” também para a pirataria, e hoje oferece restaurante, lanchonete, salas para conferências, shows e outros diversos fins. Ressalto ainda, por conta de minha “infeliz e catastrófica” contribuição, as salas de projeções que se fecharam; afinal, pelo valor de um ingresso dá, quase, para montar um acervo. E não lamento só pelos produtos, ou pelos proprietários, mas, fundamentalmente, sobre as últimas perdas [cinemas], os prédios e suas histórias na formação do cenário da cidade – não me conformo em não mais ver os letreiros a anunciarem o que está em cartaz no Nazaré, no Olímpia, no Palácio, no Cinema I, III e III...

Sei que algumas “novas idéias”, diga-me o espevitado Luiz Alho, tendem até a minimizar esses pesares, ainda assim, não poderia deixar de me manifestar na forma que aqui está – espero que minha mente esteja satisfeita, com o texto, é claro! – pois o incomodo, agora, dá vez à dúvida: volto a assistir ao filme ou não?



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário