sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

INDIGNAS CONSIDERAÇÕES

No ano passado, mais precisamente no mês de outubro, presenciei (a falta de) ações que jamais imaginei rever coisa similar, principalmente em termos de “descaso” com a importância alheia – importância que engrandece, inclusive, o Estado e pessoas, em particular, e que não passam, de fato, de “mero interesse circunstancial”; como tive de ver novamente em 2009.

Explico.

1ª parte:
Em 10 de outubro de 1908, nasceu em Icoaraci, na época, Vila Pinheiro, o hoje considerado “príncipe dos poetas”, Antônio de Nazareth Frazão Tavernard – ou somente, mas não menos criativo ou importante, Antônio Tavernard – o “Toni” da intimidade na família Tavernard.

Para 2008, eu que sou pouco conhecedor da obra, e suficientemente apaixonado por este pouco, esperei uma maior consideração dos órgãos competentes (públicos ou civis) para demonstrar o mínimo da consideração para com quem, já em sua época, colocava as particularidades e peculiaridades do Pará em evidência para todo o país – não somente como o coitado poeta do “rancho fundo”, mas para a considerável relevância de suas obras, nas diversas modalidades da arte da palavra escrita – já que Tavernard foi também contista, teatrólogo, crítico literário e ensaísta. Afinal, era o ano do Centenário.

O descaso começa pela administração do, hoje, distrito de Icoaraci, que sequer pensa em mover ações que visem à revitalização da histórica casa em que morou o referido poeta – situada à Rua Siqueira Mendes (1ª rua à beira-mar). O que há de consideração pública para com o escritor é: um trapiche na Ilha de Cotijuba [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma viela sob o prédio em que está o CENTUR [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] e as ruínas do que um dia foi a “casa do poeta” [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] – de uma coisa as pessoas têm certeza: foi alguém que teve alguma importância, pois só assim se vira nome de rua, prédio ou qualquer outro logradouro público.

2ª parte:
Em 10 de janeiro de 1909, nasceu em Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, na época, Vila de Ponta de Pedras, o hoje considerado “romancista da Amazônia”, Dalcídio Jurandir Ramos Pereira – ou somente, mas não menos criativo ou importante, Dalcídio Jurandir – Dal, na intimidade de sua família – que cresceu em Cachoeira do Arari, também no Marajó. E que depois, por conta da imensa vontade de estudar, galgou rumo à história de sucesso – Belém / Rio de Janeiro – onde faleceu em 1979.

Para 2009, eu que sou “menos” conhecedor “ainda” da obra, mas suficientemente apaixonado pelo mínimo que sei sobre O QUE VIVE, SENTE E SONHA O HOMEM MARAJOARA (nas palavras do próprio Dalcídio), esperei uma maior consideração dos órgãos competentes (públicos ou civis) para demonstrar o mínimo da consideração para com quem, já em sua época, colocava as particularidades e peculiaridades do Pará em evidência para todo país – não somente como o simples escritor dos “campos do Marajó”, mas para a considerável relevância de suas obras, nas diversas modalidades da arte da palavra escrita – já que Dalcídio foi também poeta, jornalista, crítico, ensaísta. Afinal, é o ano do Centenário.

O descaso começa pelas administrações dos referidos municípios, que pouco – quase nada – fizeram para que marcos físicos nas cidades possam se manter como referências da história de tão ilustre filho – potencializando a idéia do “turismo literário” – afinal, quem não gostaria de conhecer todos os rios e comunidades que Dalcídio descreve em seus romances. O que há de consideração pública para com o escritor é: uma rua em Cachoeira [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma praça municipal em Belém sem dinâmica alguma [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], uma escola que, contra a vontade das autoridades locais, em Ponta de Pedras se chama Dalcídio Jurandir [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão], e agora, por conta de uma programação compensatória por parte de um grupo de estudiosos [acadêmicos em menor escala, segundo a proposta de popularizar as obras de Dalcídio, no sentido de torná-lo mais acessível aos níveis do ensino médio e fundamental, por que não?] uma placa foi instalada como indicação de uma obra que ainda se concluirá num espaço cultural que sediará o campus da UEPA em Ponta de Pedras [sem maiores referências de quem foi o “tal” cidadão] – de uma coisa as pessoas têm certeza: foi alguém que teve alguma importância, pois só assim se vira nome de rua, prédio ou qualquer outro logradouro público.

Perceberam como nomes [aliás, não apenas nomes, mas homens] ilustres têm até mesmo a história do “descaso” moderno em comum.

Estão de parabéns os cidadãos simples, desvinculados de interesses administrativos ou de gestão pública [ainda que apoiados por estes] que reconhecem que em seu tempo atual, mesmo em condições desfavoráveis, podem se remeter à relevância de todos aqueles que ajudaram na construção da história do Pará – cada qual ao seu modo, ao seu estilo.

Sei que é um pouco tarde, mas nunca demais, a considerar seu centenário de nascimento em 2008: VIVA ANTÔNIO TAVERNARD!

E por me instigar a tirar da gaveta meus escritos que denunciam o descaso com a boa escrita, nada provinciana, por sinal, de nossos maiores pensadores e “operários da palavra” – segundo Carlos Correia Santos: VIVA DALCÍDIO JURANDIR.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Contador de Histórias
professorsantos@bol.com.br

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