sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

FELIZ ANO NOVO, DE NOVO!

Eu bem que poderia aproveitar a oportunidade, aliás, mais uma oportunidade neste espaço e desejar a todos os leitores e editores o Feliz Natal que não pude enviar antes, ou ainda, os votos sinceros de um Ano Novo cheio de realizações e prosperidades, mas...

Deixem meu pessimismo de lado e considerem o óbvio: aquilo que os olhos veem e o coração sente da pior forma possível. Já escrevi para esta seção por ocasião da violência, mas para o descaso não há jeito.

Por que as autoridades (dá até vergonha dizer isso: “autoridade”, mas fazer o quê, se os tais gostam de assim se intitular – porque não somos nós que os escolhemos, se bem que os que escolhemos também não se diferem muito... em nada!) fazem vista grossa ao que está, literalmente, debaixo de seus narizes? Será que é porque as vítimas, na maioria, são pessoas comuns? E ainda aparecerá alguém querendo “direito de resposta” para dizer que policiais também são gente comum... Além do que muitos, como eu mesmo, temeriam em usar do espaço público para dizer o que disse... E dizer o que eu digo é, comprovadamente, por questões muito (mas muito) pessoais, “chover no molhado”.

Se é inevitável, ao ligarmos a TV ou lermos o jornal, nos depararmos com manchetes trágicas, já que a tragédia é a bola da vez; queria muito entender o que está acontecendo que nem o anunciado se pode evitar? Lembro que ouvi certa vez, na faculdade, que para muitas doenças as curas já existem; mas o que aconteceria, se fossem reveladas, com a indústria de remédios? Penso que é o que está acontecendo com a violência, mais especificamente com o crime, daí me vem à memória o deputado/apresentador que forjava os crimes para exibir em seu programa as “cenas bárbaras” – como ele mesmo as apresentava.

A coisa está banalizada mesmo: um policial, não direi inocente, mas que na ocasião realizava seu trabalho, dignamente, foi morto; por conta disso, e “só por conta disso” – vários casos foram, são e serão assim – vários bandidos foram mortos até chegar nos comparsas do infeliz algoz de mais um pai de família (é assim que prefiro lembrá-lo); este que, coincidentemente, era um policial, porque os que não têm essa (falsa) sorte, morrem simplesmente; e com a mesma simplicidade que morrem, são esquecidos principalmente por quem pensávamos ser só cega, mas que também dá vez a surdez.

A violência anunciada e a morte premeditada estão aí nas ruas, estampadas em faixas que divulgam o enredo da tragédia, com tudo muito bem definido: personagens, local, dia e hora – pois não faz uma semana sequer que uma jovem de dezesseis anos foi morta numa “casa de shows” (cuja vida é coadjuvante e que já está com a programação de fim ano garantida) na Avenida Augusto Montenegro. A vida é desvalorizada e ceifada em promoções (que vão do preço das cervejas em balde ao horário de entrada gratuita para mulheres e “universitários”) que desconfio ser a própria Morte a promoter. Tudo perfeito para que no dia seguinte, como em frases estampadas em papelões nos estádios de futebol, após uma partida de final de campeonato, alguém exclame: “Eu sabia!”

Lembrei-me do personagem “seca pimenteira” do Zorra Total, pois é final de ano, todo mundo aguardando palavras de conforto e prosperidade e eu aqui expondo a tragédia da “vida como ela é”; mas não é agouro de minha parte, é só a minha “retro 2009” a mais recente; a da vida real.



Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Redação
professorsantos@bol.com.br

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