segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

VIROU TIMBOTEUA

Lembro que das vezes que ouvi tal expressão, a mesma sempre esteve associada à bagunça, desordem e coisas do tipo; e dessa mesma forma a utilizei por algumas diversas vezes. No entanto, conheci, por ocasião do carnaval, a Nova Timboteua – não uma “nova bagunça”, muito pelo contrário...

A considerar que o carnaval é uma festa na qual ordem ou desordem não fazem muita diferença, pois cada um vai e sai como quer ou bem entende, desde que justamente deixe os padrões e convenções de lado. Pois a ordem – de comando, e não de organização – do Rei (Momo) é transgredir – com tranquilidade, respeito, segurança e paz – talvez, até, preceitos bem modernos para um rei tão antigo – a considerarmos, é claro, que nossa época é bem mais insegura, daí a preocupação de sua majestade.

Mas voltando à Timboteua... A cidade e as pessoas são cúmplices de uma hospitalidade, de uma prestatividade, e de um carisma que só quem ainda não conhece a cidade sequer tem noção do que perde. Aliás, é assim com tantos outros lugares no Pará que precisam ser conhecidos.

Com o carnaval conseguiram superar a ordem aplicada à desordem – a boa desordem carnavalesca. Uma festa popular muito bem organizada, da qual os moradores das vilas que se agregam e formam o território municipal, assim como muitos outros de municípios vizinhos – Salinas, Santarém Novo, Peixe Boi, Quatipuru, Bonito – estiveram efetivamente presentes; não apenas para “apreciar”, mas estiveram no meio da folia, na avenida do samba, no auge da alegria; assim como os que de outras regiões, como eu mesmo da capital, deram, por lá, o ar de suas graças, e ajudaram a ratificar Nova Timboteua como uma cidade boa mesmo de fazer festa – isso porque todos já conheciam a Festa do Mingau, para a qual meu convite já está assegurado e minha presença garantida.

Muito legal a forma como a Secretaria de Assistência Social encaminhou o processo do carnaval desde o planejamento à execução dos concursos: Perua do Carnaval, Rainha Gay, Rainha das Rainhas e o belíssimo Desfile Oficial, que contou com quatro boas agremiações que estão de parabéns, com uma pequena restrição: a de que não adianta o poder público investir na qualidade e potencializar o que de melhor tem no lugar para que mantenhamos pensamentos retrógrados e provincianos. Onde por um acaso alguém ouviu falar que uma simples candidata do Rainha das Rainhas do Carnaval, evento dos mais conhecidos do gênero, no Norte do País, será ou deveria ser a eleita ao se deslocar para os interiores do Estado. Isso é pensar pequeno. Querer ludibriar a inteligência das pessoas é demais. O carnaval é belo, dentre outros motivos, justamente, pela inventividade, criatividade e originalidade – ainda que “no mundo nada se crie, tudo se copie”, mas que se use, pelo menos da sutileza – afinal eu assisti ao desfile das Rainhas no Hangar.

Porém, o incidente acima exposto, não tirou nem ofuscou o brilho dos blocos, dos quais, inclusive, o acima mencionado, cuja candidata homenageou Clara Nunes, sagrou-se campeão do carnaval 2010, em Nova Timboteua; e muito justamente avaliado por tudo o que apresentou na avenida. E a lisura dos processos seletivos, fez com que cada uma das agremiações, democraticamente, fosse contemplada com uma das premiações disponíveis: A perua do carnaval 2010 é do Bloco Fura Olho; A rainha gay é do Bloco Vem Que Tem; A rainha do carnaval é do Bloco Me Beija; e o bloco campeão do Timbófolia 2010 é o Bloco da Paz. O corpo de jurados foi o mais idôneo possível, pois nenhum deles, dentre os quais, eu, nunca tínhamos ouvido falar no carnaval daquela cidade – no máximo, a conhecia por ser passagem quando ia a Salinas, visitar meu pai.

Em fim, foi uma festa sem igual, com justiça a todos que trabalham só em prol do bem-estar das pessoas da comunidade. Estão de parabéns os timboteuenses. Para o ano que vem, fiquei sabendo, haverá mais bloco se preparando; assim a disputa vai acirrar de modo a ampliar o empenho de todos, e a concorrência só tende a garantir um acréscimo na qualidade do que se vai oferecer: carnaval com qualidade.

Precisamos disso: divulgar tantos outros carnavais. Torná-los cada vez mais notórios, como hoje já contamos com outras peculiaridades da época, que não apenas os desfiles oficiais de escolas de samba; assim foi e vem sendo com: as vigienses, na Vigia; os pretinhos do mangue, em Curuçá; os mascarados fobós, em Óbidos; a bicharada, de Cametá; e outros mais que existem em cada canto desse país que é o Pará.

Agora sim! Quando alguém disser que, se não houver ordem, a situação pode virar “Timboteua”, eu direi que não tem nada a ver uma coisa com a outra... Não com a Nova Timboteua que conheço.
Alci Santos
Professor de Língua Portuguesa e Arte-Educador
professorsantos@bol.com.br

2 comentários:

  1. Professor Alci, ainda lembro de suas aulas no 2º ano. Bom revê-lo, ou melhor, 'lê-lo'.

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  2. E de onde vem a expressão virou timboteua ?

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